segunda-feira

Vaspeanos pilotam hoje a aviação brasileira

Jornal de Turismo Edição 568

Ex-funcionários da Vasp são maioria no comando da TAM e da Gol

por Cláudio Magnavita*

Durante o período que a Vasp era estatal, muitos se perguntavam como seria a companhia aérea se o comando da empresa fosse entregue ao seu corpo técnico. E isso, sem passar pelo rodízio de diretores políticos que eram indicados a cada mudança no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, até então o principal acionista da empresa.

A companhia aérea sempre teve um corpo técnico exemplar e capaz de manter a empresa viva, apesar da alternância de presidentes e diretores políticos. Quando assumiu o controle da companhia, depois de um polêmico processo de privatização, o empresário Wagner Canhedo encontrou nos quadros da Vasp os melhores técnicos do mercado e teve musculatura para uma expansão internacional rápida. A companhia, com isso, pôde mostrar que possuía uma cultura sólida.

A Vasp estatal foi responsável pela introdução, em 1969, da frota padronizada dos Boeings 737-200, que viraram Super Advance graças às recomendações dos técnicos de manutenção da empresa paulista para o fabricante, dos inesquecíveis 727-200 e também dos primeiros Airbus no Brasil (o A300K). Foi pioneira em diversas ações, como o seu sistema próprio de reservas informatizado, do primeiro ticket print, de um centro de treinamento com simulador próprio e de um parque de manutenção que fazia inclusive a revisão dos 737 da Presidência da República.
A empresa sucumbiu na mão do acionista por conta de uma confusa engenharia financeira e chegou a ter uma sobrevida exatamente pela capacidade técnica do vaspeano. No fundo, a cultura de segurança e qualidade técnica dos pilotos e da manutenção da Vasp atingia a mesma qualidade da Varig. As duas empresas tinham dimensões diferentes – a estatal sempre teve o seu crescimento represado pelo lobby político da principal corrente, mas eram similares na disciplina quase militar das suas operações.
Quem olhar com profundidade o atual panorama da aviação brasileira irá descobrir que foi exatamente o DNA de aviação de alto nível da Vasp que sobreviveu através de seus funcionários exemplares.
O que ocorreu agora com a TAM é um exemplo disso. Com o seu novo dirigente maior, o comandante David Barioni Neto no cargo de presidente, uma equipe de vaspeanos passou a dominar a aviação brasileira.
Barioni e a equipe que levou para a TAM é toda oriunda da Vasp estatal. No primeiro escalão da companhia fundada pelo comandante Rolim, estão, além de Barioni, o comandante Jorge Isaac Gabriel Filho, que é o vice-presidente técnico e o comandante Fernando Sporleder, que assumiu a vice-presidência de Operações. A esse grupo junta-se outro vaspeano de carteirinha, Wagner Ferreira, vice-presidente comercial, que aliás, foi o primeiro a migrar para a TAM, através de uma visão premonitória do próprio comandante Rolim, que o tirou pessoalmente dos quadros da Vasp para dirigir a área comercial da TAM.
O que pouca gente lembra é que a própria TAM tem o seu DNA na Vasp. O comandante Rolim Amaro, além de ter trabalhado na Viação Aérea São Paulo, teve a companhia como sócia na transformação da Táxi Aéreo Marília em empresa regional. Neste período, a Transbrasil virou sócia da Nordeste e a Varig da RioSul.
O impressionante é que o nível de sinergia desta equipe, que agora comandará a TAM, ou seja, a maior empresa aérea do País, vem desde da época da Vasp,ou seja, estão juntos há pelo menos 20 anos.
Se o mercado olhar para o lado, verá que o DNA Vasp também está presente na Gol. Foi do quadro da empresa paulista que saiu o primeiro grupo de executivos e pilotos, formado pela equipe que agora migrou para a TAM. Hoje, no quadro diretivo da companhia da família Constantino, encontram-se, em três vice-presidências, os vaspeanos: Tarcísio Gargioni, Wilson Maciel Ramos e Fernando Rockert de Magalhães, além do diretor de planejamento Maurício Emboaba Moreira. Como a Varig está subordinada a Gol, chega-se à conclusão que a nova empresa também está sob a regência de vaspeanos.
Esta sincronicidade de expoentes do quadro da Vasp que agora, juntos, comandam as duas maiores empresas aéreas do país, comprova que a Viação Aérea São Paulo foi um dos maiores celeiros de talentos da aviação brasileira. Uma escola que ensinou a driblar as dificuldades, que entre elas estavam o forte arrocho promovido pela empresa líder (a Varig) e as mudanças diretivas, de quatro em quatro anos, com as trocas nos governos do Estado de São Paulo. Este corpo funcional manteve a empresa blindada de interferências políticas até a sua privatização.
Se a Vasp foi tragada a uma recuperação judicial pela gestão do seu acionista privado, o seu corpo técnico não só sobreviveu, como hoje predomina no comando da aviação brasileira, fato que não ocorreu na antiga Varig devido ao ceifamento permanente de cérebros e a antropofagia de suas disputas internas nos últimos 12 anos.
Só quem viveu a emoção do jingle “Atenção! Você com essa ficha na mão... Dirija-se ao portão... Embarque neste avião...” e que finalizava com “A Vasp abre suas asas com ternura... Para você ganhar altura!!! Viajar!!! Voar!!!” sabe o que poderia ter sido a história da aviação brasileira se a privatização da Vasp tivesse sido feita de outra forma e que coubesse aos próprios vaspeanos comandar os destinos. Hoje, com algum atraso, a aviação brasileira está verdadeiramente nas mãos de uma elite, que foi criada pela grande escola que foi a Vasp estatal. Além dos dirigentes citados neste artigo, existem milhares de outros vaspeanos, que ocupam os cockpits das aeronaves destas mesmas empresas, também como comissários ou em centenas de funções. A Vasp foi uma grande escola e agora, com a posse de David Barioni na presidência da TAM, este fato ganha maior visibilidade. Esta é uma história que precisa ser resgatada.
*Cláudio Magnavita, é diretor do Jornal de Turismo e trabalhou na Assessoria de Comunicação da Vasp (SAODR) de 1979 a 1985.

terça-feira

Uma perigosa passividade no fim dos vôos da Varig para a Argentina

Ninguém do trade reclama e Itamaraty se mantém inerte sem atentar para a quebra do princípio da reciprocidade

O Governo Federal, em todos os assuntos referentes à Varig e ao processo que envolveu a recuperação judicial da companhia, tem ficado atrelado a um imobilismo assustador. A suspensão dos vôos da companhia para a Argentina, realizada de forma unilateral pelo governo do país vizinho, não gerou nenhuma reação da diplomacia brasileira, que não foi ainda capaz de reverter uma decisão que teve vários diferentes motivos e que vem trazendo prejuízo para as duas nações.
Foi um decisão unilateral e que mereceria uma reação enérgica imediata, que poderia ter sido a penalização, dentro das regras do acordo bilateral, das freqüências da empresa argentina que voa para o Brasil. Um cálculo simples: se o governo argentino suspende os vôos da Varig e eles equivalem a 30% da cota de cada país, as Aerolíneas Argentinas deveriam reduzir os seus vôos na mesma equivalência. Esta é uma fórmula dura que poderia ter sido aplicada pelo brigadeiro Eliezer Negri, superintendente de Relações Internacionais da Anac e um dos nomes cotados para ocupar a diretoria da empresa. O ministro Nelson Jobim poderia encampar esta nova cruzada, que se encontra completamente órfã.
Penalizar a Aerolíneas seria uma ação extrema, que também traria prejuízos para o turismo dos dois lados. A Argentina é o maior emissor de turistas estrangeiros para o Brasil, da mesma forma que somos os seus maiores emissores de turistas internacionais. Perder uma transportadora, que realizava dez freqüências diárias multidestinos em cada trecho da rota, é estrangular o fluxo de turistas para os dois lados.
A Varig foi abatida por uma pressão sindical, que em um ano eleitoral ganhou força e que envolve uma indenização de 104 funcionários da antiga Varig, que, no caso da transferência da empresa velha e na admissão da nova VRG, gerou uma indenização não superior a US$ 400 mil. Esta conta ficou no limbo do processo de transição. Eles receberam salários em dia e o que se discutia era a transição dos empregos de uma empresa para outra. É só nestas horas que aparece a indenização trabalhista, já que as vagas foram asseguradas. No processo de colapso da própria Varig, os funcionários antigos pediram demissão e foram afastados mediante acordos indenizatórios, que foram quitados pelo fôlego que restava da operação internacional. O quadro funcional é de contratados com poucos anos de empresa, que agora ficam sem indenização e agora correm o risco de até perder o emprego definitivamente pela paralisação da empresa.
O motivo, não divulgado, para paralisar as operações e encobrir a pressão sindical, teria sido a inexistência de uma apólice de seguros. Foi por este motivo que se reduziu o número de assentos oferecidos na rota entre o Brasil e a Argentina, promovendo aumento substancial das tarifas e redução de assentos. Só a receita cessante das vendas realizadas pela Varig na rota, faz com que os lados acumulem prejuízos superiores a 20 vezes o que é obtido no ingresso de divisas trazidas pelos turistas.
O mais curioso é que as autoridades responsáveis pela gestão governamental da aviação na Argentina têm as suas origens nos movimentos sindicais, o que foi revelado pela radicalização da posição. E a medida foi tomada depois de alguns avisos e de um ultimato que não levou em conta os aspectos da balança comercial e do turismo.
No setor indústria do turismo, os protestos são tímidos, nos dois lados, principalmente quando se esperava uma reação diplomática na altura da violência cometida. Tudo segue como antes, sem nenhuma pressão e como se fosse absolutamente normal.
No Brasil, as operadoras que apostam em venda para o mercado argentino estão desesperadas. Sem contar com a Varig, a maior delas, em plena véspera do feriado de 7 de Setembro, não sabia como embarcar 80 passageiros para Buenos Aires, nem como obter acomodação aos congêneres, até mesmo na co-irmã da própria Varig.
O trade espera o reaquecimento das rotas de longa distância da Varig para a Europa, principalmente para irrigar o Carnaval e o Fim de Ano, mas o atual cenário deve resultar em um incremento de estrangeiros para o Brasil. Como não existem lugares nos aviões, perderemos uma operação para a Argentina e ninguém reclama. Só o Rio, perdeu dois vôos diários para Buenos Aires. Querem uma missão impossível? Conseguir um lugar do Rio para Buenos Aires nos próximos finais de semana. Quando se consegue, a tarifa já chega a três vezes ao que era praticada em maio.
A Gol, como proprietária da nova Varig, não pode honrar os compromissos da antiga empresa sob o risco de firmar jurisprudência e com isso desencadear uma sucessão de ações indenizatórias. O mercado assiste passivamente e as autoridades brasileiras, que durante tantas outras ações como o caso do visto, defende a reciprocidade, fica passiva e calada, como se tivéssemos culpa e merecêssemos uma advertência dos nossos irmãos portenhos.
A passividade da diplomacia brasileira neste caso é irritante. O Itamaraty não se meteu como devia nesta questão e a própria sociedade aceitou passivamente a atitude unilateral argentina, que agora atravessa um período eleitoral e é bem sensível as esses rompantes nacionalistas. O mais grave é que ninguém fez as contas de quanto estamos perdendo e de como ficaram estranguladas as ligações com nosso principal destino turístico e, principalmente, com o nosso principal país emissor.
Quando os vermelhos começarem a aparecer nos balanços é que se dará conta do que aconteceu. Aí, teremos que chorar sobre o ocorrido e será tarde demais. Deixe a alta estação chegar e veremos que voar para a Argentina ficará mais caro do que voar para Miami.
Cláudio Magnavita é presidente da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo (Abrajet), membro do Conselho Nacional de Turismo e diretor do Jornal de Turismo

O peso político do Turismo não tem paralelo na administração pública

Cláudio Magnavita
A ministra Marta Suplicy trouxe para o turismo uma vontade política que está vitalizando o setor. Soube montar uma equipe competente, com o secretário Executivo, Luiz Barreto, o secretário Nacional de Políticas de Turismo, Airton Pereira e o secretário Nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo, José Evaldo (todos do PT), trouxe uma agilidade na implantação de projetos que é surpreendente. O Viaja Mais-Melhor Idade saiu do papel para o seu lançamento em menos de 4 meses. Um programa que contou com o apoio do Ministério do Trabalho e da Previdência em tempo recorde. Dificilmente um outro titular da pasta do turismo conseguiria tal proeza. Além do seu carisma e do seu patrimônio político, Marta Suplicy sabe que o seu desempenho no Ministério será fundamental para vôos maiores, inclusive a própria Presidência da República.
Ela pilota uma pasta que tem uma agenda positiva, que permite trafegar em toda a nação e por todas as correntes políticas, inclusive de adversários ferrenhos de pleitos eleitorais anteriores, como foi o caso agora da assinatura de convênio com o governador de São Paulo, José Serra.
É rara a semana que a ministra não despacha no Rio de Janeiro, ocupando um espaço positivo na mídia, com realizações e acordos que já a transformaram em uma personagem carioca. Aliás, no Rio, Marta cumpre sempre uma agenda familiar, já que o seu filho João Suplicy e a sua nora, a atriz Maria Paula e a netinha Maria Luísa, moram na cidade. Ganhar visibilidade no Rio é um ativo que nenhum outro político de São Paulo conseguiu.
Nas suas viagens a destinos do Nordeste e do Sul, a tietagem em torno da ministra é de pop-star. As mulheres fazem fila para serem fotografadas ao seu lado e há até pedidos de autógrafos. Nem o ministro Gilberto Gil consegue tanta visibilidade.
Se este patrimônio pessoal for aliado a um elenco de realizações nacionais, como foi o caso do recente convênio assinado em Salvador para a recuperação do Centro Histórico, o cacife político da ministra Marta será crescente e sem paralelos dentro do próprio Partido dos Trabalhadores.
É por isso que fica cada vez mais remota a possibilidade da ministra deixar o Ministério para uma aventura eleitoral na sucessão paulistana. Ganhará o turismo com a sua permanência, anabolizado pelo hormônio político das realizações. O setor passa a ter uma musculatura extra, capaz de encurtar prazos, como foi o caso do anúncio do ministro Guido Mantega na reunião do Conselho Nacional de Turismo, quando informou as medidas que o Ministério da Fazenda está tomando para desonerar o setor hoteleiro.
Nesta equação o turismo teve a sorte de contar no primeiro governo do presidente Lula com o ministro Mares Guia, que deu o peso político inicial à pasta e, na sua sequência, a presença da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, que agarrou a oportunidade de fazer parte do primeiro escalão federal com uma velocidade de realizações sem paralelos.
Fica claro que o turismo pode trazer votos e que a vontade politica é o insumo principal para aumentar a credibilidade e dar espaço a uma atividade. Com Mares Guia e agora Suplicy, fica claro que o turismo pode ser um excelente passaporte para vôos maiores. É só o seu titular saber usar a pasta com altivez e promover uma relação direta com o poder legislativo, já que é das emendas parlamentares que vêm o principal oxigênio financeiro para o turismo.
Este trânsito parlamentar, multipartidário, que tem sido conduzido pessoalmente por Luiz Barreto, transforma a gestão do Ministério em uma agenda de realizações positivas para o seu titular e poderá servir de passaporte para o Palácio do Bandeirantes e, quiçá, o próprio Planalto.Cláudio Magnavita é presidente da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo, membro do Conselho Nacional de Turismo e Diretor do Jornal de Turismo

Na aviação, o ministro acaba tendo um perfil muito parecido com o de Denise Abreu

O ministro da Defesa Nelson Jobim acabou fazendo a mea culpa em uma reunião de ministros quando afirmou: "Fui autoritário, tive que ser autoritário, e tive que fingir autoritarismo". Depois explicou que precisou agir dessa forma porque era preciso passar a idéia de que não existia mais falta de comando no setor aéreo brasileiro.
Jobim vem demonstrando que tem perdido o tom. Exagerando nos embates públicos e se desgastando com os factóides que tem criado, até mesmo ignorando o seu passado como ser político. Deputado federal de dois mandatos pelo Rio Grande do Sul, ele foi ministro da Justiça por dois anos do Governo Fernando Henrique até ser indicado pelo Planalto para uma vaga no Supremo Tribunal Federal. Durante sua vida parlamentar foi militante ativo do PMDB, legenda pela qual espera concorrer à próxima sucessão presidencial. Foi do próprio partido que partiu a primeira reação pública que se mobilizou para defender o ex-deputado Leur Lomanto, que ficou na linha de tiro de Jobim.
Filho do ex-governador e ex-senador da Bahia Lomanto Junior, Leur Lomanto foi deputado federal por duas décadas (foi colega do próprio Nelson Jobim) e na Câmara foi o relator do projeto de lei que criou a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A sua ida para a agência decorreu desse trabalho, que o fez debruçar em seminários, audiências públicas e a conhecer profundamente este assunto.
O que tem revoltado os correligionários peemedebistas de Lomanto é a forma truculenta que o ministro vem tratando os diretores da Anac, todos com currículos e especializações, como é o caso de Josef Barat, ex-secretário de Transportes do Rio, especialista em logística e com formação na área acadêmica. O mesmo ocorria com o coronel aviador Jorge Velozo, que tem a sua base na aeronáutica e com Milton Zuanazzi, especialista no setor de turismo, uma área que responde por 86% das vendas das companhias aéreas. Um mix de experiências, no qual soma-se experiências legislativas, acadêmicas, operacionais e de mercado. Quem destoou sempre deste colegiado foi Denise Abreu, que deveria trazer uma bagagem jurídica e de regulamentação, mas sempre prevaleceu o seu gênio forte e uma rispidez que lhe trouxe os primeiros desgastes públicos. A sua renúncia da diretoria da Anac deveria ter sido suficiente para equilibrar o fatos, mas não foi isso que ocorreu por culpa da determinação do ministro da Defesa em implodir a agência ou de subordiná-la de forma servil à sua pasta.
O pior é que se estabelece às claras um perigoso quadro de embate entre o Executivo e uma agência reguladora, que é um órgão de Estado, que tem a sua missão subvertida quando é colocada como subserviente ao setor que deveria fiscalizar.
O que está em jogo é muito grave. Neste caso é só focar na essência do que está ocorrendo. Um ministro de Estado resolve publicamente questionar até mesmo a existência ou não de uma agência reguladora e aproveitando a carona da imagem desgastada da Anac para pressionar a saída dos diretores mandatários. Abre-se um perigoso precedente, principalmente quando será o próprio ministro da Defesa que indicará os nomes que substituirá os diretores que não resistirem à pressão.
É só questionar e refletir sobre o que está ocorrendo. Os novos nomes que embarcarão na Anac não serão escolhidos por um ser político? Será que Jobim está rasgando o seu passado partidário e o seu sonho de concorrer à sucessão presidencial? Se a indicação não será feita pela sociedade civil e nem em audiência pública, continuará ou não uma das principais queixas que hoje atingem a Anac, o de ser gerida por indicações políticas? A diferença é que os nomes serão indicados por um único político que terá a chance de colocar uma mordaça de ferro na agência que deveria fiscalizar o setor que está sob a sua responsabilidade.
A Agência Nacional de Aviação Civil, que tem menos de um ano e meio de existência, está sendo responsabilizada por um problema encastelado há pelo menos uma década e meia no país. A Anac é a sucessora do Departamento de Aviação Civil (DAC) e herdou não só os quadros funcionais como também todo o cenário que o próprio DAC deixou. Quando o próprio ministro da Defesa afirma no Plenário da CPI do Apagão Aéreo na Câmara que a agência não deveria ter permitido o crescimento do fluxo em Congonhas, não existe um único assessor capaz de informá-lo que este quadro foi responsabilidade dos militares do Departamento de Aviação Civil e não da Anac, que desde a sua existência só reduziu as operações em Congonhas.
Durante seis horas de depoimento na mesma comissão, o ministro Nelson Jobim foi autor de uma avalanche de comentários primários e leigos assustadores. Entre eles, defendeu a diminuição da oferta e não demonstrou preocupação com a elevação dos custos e o repasse desses valores para o valor dos bilhetes pagos pelos passageiros.
Estas exposições à base de factóides e desprovida de sustentação técnica já começam a perder gás. O voto de confiança que é dado para aqueles que chegam ao cargo público está se esgotando no caso de Jobim, pela surpresa de encontrar uma personalidade truculenta, sem impor limites na sua sensação de poder. O irônico é que, num plano maior, Jobim está cometendo os mesmos pecados que vitimou Denise Abreu. Coincidentemente os dois têm a mesma origem profissional: o mundo jurídico. E os dois exageraram nas suas ações no exercício do poder com soberba, causando terremotos. Esses abalos sísmicos causaram a própria tsunami que afogou Denise e no caso de Jobim o epicentro do primeiro tremor foi no próprio PMDB, que está profundamento desagradado com o estilo caudilho do seu correligionário.
Cláudio Magnavita é presidente da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo, membro do Conselho Nacional de Turismo e Diretor do Jornal de Turismo

segunda-feira

O sucateamento das Forças Armadas tem seu lado mais visível na aviação comercial

O poder da farda no Brasil ainda é muito forte. Os assuntos relacionados às Forças Armadas são tratados com a maior delicadeza e sutileza. Evita-se confronto, críticas e até mesmo colocar o dedo em feridas.
O que poderia ser herança do período do regime militar é também a compreensão do quadro de renovação que o próprio tempo se encarregou de fazer e que levou para casa aqueles que tinham uma linha mais dura e agiam de forma arbitrária.O Governo Fernando Henrique, ele mesmo um neto de general, demonstrou um respeito aparente e cerimonioso no convívio com a caserna. Porém, o troco pelos anos de chumbo foi dado da forma mais perversa. No sucateamento das Forças Armadas e no arrocho salarial que deixou a nossa armada em situação de penúria. Quem passava para a reserva recebia um soldo de fome, sem a menor condição de manter uma vida digna condizente com o oficialato. Os quartéis tiveram de adotar o regime de meio expediente para economizar no rancho. Foram oito anos de uma tortura chinesa sem precedentes. Uma maldade destilada com um conhecimento profundo de sociologia capaz de minar e destruir o fôlego de uma instituição.É nesta linha de pensamento que chegamos ao âmago do problema que a aviação civil atravessa. O Brasil é um dos raros países do mundo que tem a sua aviação civil regida sob a manta militar. No nosso País, o setor ainda está atrelado ao Ministério da Defesa e não ao dos Transportes. O sucateamento promovido nas Forças Armadas durante quase uma década teve agora o seu reflexo mais evidente.Tudo começa num obscuro relacionamento autoritário que custou caro para a aviação comercial no início do regime militar. A Panair do Brasil foi a sua principal vítima, seguida pela Real e mais tarde pela Cruzeiro, tudo em favor da Varig, que se estabeleceu como uma gigante dos ares, a partir de suas raízes gaúchas, passando por governos militares movidos a chimarrão, como foi o de Costa e Silva, Médici e Geisel. Durante quase duas décadas as decisões por Decreto Lei tinham o poder de vida e de morte.A Vasp, como estatal, estava proibida de crescer. Limitava-se o seu tamanho e fechava-se o exterior e as receitas em dólar. A Transbrasil nasceu neste mesmo arrocho e teve sobre a sua asa uma intervenção que até hoje não foi explicada. As regionais nasceram nas asas dos bandeirantes, com um controle territorial e parceria com as grandes empresas. Foi o berço da TAM, tendo como sócia a Vasp, a Rio-Sul com a Varig e a Nordeste com a Transbrasil.O DAC (Departamento de Aviação Civil) era uma caixa preta e as decisões dependiam do bom humor de um brigadeiro ou de ordens do Estado Maior. O processo democrático finalmente chegou e a aviação civil continuou militarizada. E foi aí que ela ficou presa na teia sucateadora dos dois governos de Fernando Henrique Cardoso. Já acenando que passaria o poder para os civis, com a criação da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), os miliares, já em regime de inanição, deixaram de investir no setor. Os níveis foram tão críticos que o Brasil esteve ameaçado de descer do Grupo I para o Grupo II no final do Governo FHC, por não ter quadros de inspeção, que levou o Governo a realizar, em regime de urgência, contratações temporárias - que agora estão vencendo – que ainda hoje fazem parte da base funcional da Anac.Nos últimos 12 anos, o quadro estatístico de investimento de pessoal, equipamentos em setores vitais para a aviação comercial, como o Controle de Vôo, foi tão pífio que o sistema começou a entrar em colapso com a falta de equipamentos e com recursos humanos pilhados por um salário de fome.O raciocínio correto não é que os militares sucatearam a nossa aviação comercial. Mas que a nossa aviação teve os seus controles e fiscalização sucateados por estarem sob um regime que sofreu a tortura chinesa dos dois Governos de Fernando Henrique.A situação foi tão grave, que o processo de criação da Anac, que foi toda gerida pelo governo tucano, foi postergada para a administração seguinte. Faltou coragem de colocá-la em campo.Durante o período do regime militar a aviação esteve amarrada ao peso do lobby dos oficiais generais. Era raro um vôo para Europa que não houvesse na primeira classe algum oficial ou até familiares, com tratamento de supervips. Uma fórmula que tentou se perpetuar quando a Varig montou a super-academia de ginástica do primeiro presidente eleito pelo voto popular. Depois, no Governo FHC a velocidade inercial dos investimentos ainda realizados nos anos de chumbo começou a perder força e o sucateamento começou a ficar evidente. O lobby com os militares que regiam a nossa aviação perdeu os tons nacionalistas e ganhou feições perigosamente mercantilistas.O jogo de transição ainda continua, só que é preciso corrigir o erro histórico, de colocar a aviação comercial sob a regência militar e começar a repassá-la à sociedade civil. Hoje, a Aeronáutica está dividida. Alguns setores querem o abacaxi de volta, enquanto outros sabem que não há mais como ter esta gerência, e as sinalizações do brigadeiro Juniti Saito o enquadram nesta segunda ala.É preciso coragem para focar na origem dos problemas. Preservar o papel da Aeronáutica neste jogo é ofuscar a presença de um protagonista que só passou a coadjuvante há pouco mais de um ano.O apagão aéreo começou com uma crise de caserna e com um ministro civil que subverteu a hierarquia militar dando guarida a sargentos e cabos. E só será resolvido com um posicionamento cirúrgico, que afaste definitivamente a regência dos quartéis e que se profissionalize, com salários decentes para um setor que é vital para um país de dimensões continentais como o nosso. O primeiro passo foi a criação da Anac e o segundo é tirar da Defesa, e passar para o Transporte, a gerência do executivo da aviação comercial. Para isso é preciso coragem e determinação política.Cláudio Magnavita é presidente Nacional da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo, membro do Conselho Nacional de Turismo e diretor do "Jornal de Turismo".

“Isso é uma vergonhaaaaaaaaa...”


Site do "Panrotas" permite a publicação de comentários de autores não-identificados e gera intriga no trade
REPORTURTínhamos decidido não trazer para a edição impressa do jornal o assunto abaixo. A grande repercussão da sua divulgação no nosso on-line teria sido suficiente para marcar a nossa posição nesta questão. Porém, o editor do Panrotas resolveu abordar parcialmente esse tema, de forma muito imprecisa, na sua página 3, o que nos leva a publicar este texto para uma maior informação do trade turístico. Ele preferiu gastar suas linhas para falar sobre um “absurdo apelo de volta da censura” e reafirmar a manutenção do seu espaço para comentários, só que não usou nenhuma palavra para explicar como permitiu que textos falsos fossem ao ar sem checar a identidade verdadeira dos seus autores. Criou, com achismos, uma cortina de fumaça blasê e demagógica e nem teve a humildade de pedir desculpas ou explicar uma falha que é apontada no texto abaixo, mediante o relato fiel dos fatos. Uma boa leitura: “Isso é uma vergonhaaaaaaaaa...”REPORTUR - EDIÇÃO 550 DO JORNAL DE TURISMOSite do "Panrotas" permite a publicação de comentários de autores não-identificados e gera intriga no trade Cláudio Magnavita“Como diria o Bóris Casoy. Isso é uma vergonhaaaaaaaaa”. Este comentário foi postado no site do Panrotas às 12h22 do dia 3 de agosto, sob a identificação número 9.394, exatamente para externar o sentimento de indignação contra um mecanismo que em nome da democracia, tem sido utilizado para atingir ações e posições corajosas de lideranças do turismo. Foi postado para comprovar como um veículo sério como o "Panrotas", que tem um site com relativa audiência, pode prestar um enorme desserviço ao turismo quando passa a funcionar como um ventilador que espalha inverdades e comentários maldosos sem que haja um critério ou um filtro capaz de eliminar comentários jocosos, anônimos, tendenciosos, tudo isso impunemente, sem que pessoas ou entidades possam reagir e terem a sua dignidade protegida.No último dia 31 de julho, uma manifestação assinada por dirigentes integrantes do Conselho Nacional de Turismo foi divulgada reafirmando o apoio das entidades a Milton Zuanazzi e sua correção como homem e servidor público. O que fez o Panrotas? Colocou a notícia e abriu espaço para comentários. Criou-se uma clima de polêmica. Dois dias depois, uma das entidades, a Bito, enviou um carta comunicando que não havia confirmado o seu nome na correspondência. O que fez o Panrotas? Manteve a mesma linha no site. O mesmo ocorreu com o pedido formal de desculpas.Em termos editoriais, impecável, mas o festival de comentários de baixíssimo nível, nenhum deles apoiado em fatos e seguindo uma linha de juízo emocional, proporcionava um clima doentil e destrutivo.Indignado por um dos comentários, que o atingia pessoalmente, o dirigente de uma entidade de classe procurou a direção do "Panrotas" e externou a sua insatisfação com o tom pejorativo da crítica. Recebeu como resposta argumentos sobre a liberdade de expressão, aliás, os mesmos que utilizamos quando decidimos tornar público este episódio. Falou-se também sobre a seriedade do controle da postagem das mensagens, que na empresa passava diretamente pelo crivo de dois dirigentes do veículo. Enfim, um conjunto de normas e cuidados que deixavam a vítima dos ataques refém de uma argumentação lúcida e até coerente.Seria o ônus da democracia e da liberdade de expressão. Insatisfeito, quis o dirigente contactar pessoalmente o autor do comentário para expor democraticamente a sua posição. Foi louvável a atitude do "Panrotas" em fornecer os contatos. Mas, o que aconteceu? Todos os números eram inexistentes e a pessoa que escreveu os comentários utilizou um e-mail genérico. Ou seja, era um comentário forjado, que o site endossou, editou e colocou no ar sem o mínimo de controle. Apurado o erro, o comentário foi retirado da página e prometeu-se que passariam a ser mais rigorosos e até desenvolver um sistema para acabar com este tipo de manipulação. Conhecendo a tradição e respeitabilidade do "Panrotas", nunca se poderia pensar que uma empresa, com dirigente tão respeitado e sério – este tipo de coisa deve estar sendo feita ao arrepio das suas orientações – pudesse ser palco de manifestações anônimas e sórdidas, sem que existisse um controle absoluto do conteúdo.No dia seguinte, como estes espaços, que eram para ser um tribuna altiva da liberdade de expressão, continuavam presentes, como um lamaçal de intrigas e maldades, resolvemos testar uma mudança de postura. E acompanhamos, de forma investigativa, a colocação de três comentários de subscritores falsos, que foram publicados irresponsavelmente sem que houvesse a checagem dos seus emissores. Entre eles, o “Isso é uma vergonhaaaaaaaaa...”. Mensagem utilizada para criticar, não o conteúdo da notícia, mas para protestar contra a forma leviana que a democracia acaba sendo utilizada, para abrigar de forma irresponsável a ataques e contestações que se abrigam como vírus em um dos veículos mais conceituados do nosso trade.A atitude corajosa das 29 entidades demonstraram uma posição firme, coerente e destemida. As entidades merecem respeito e os seus dirigentes serão reconhecidos pelo tempo. Quando a nota foi escrita, Zuanazzi já tinha nas manchetes o seu pedido de renúncia com data e local para acontecer. Foi uma manifestação lúcida das entidades, que infelizmente ficou como alvo de um festival de maldades, promovido por um instrumento sem nenhum tipo de controle e capaz de auditar o seu autor. Em tempo: este artigo leva a assinatura e qualificação do seu autor.Cláudio Magnavita é diretor do Jornal de Turismo.O papel da imprensa especializadaA imprensa especializada tem a obrigação de conhecer profundamente o setor para o qual ela se dedicou. Não pode ficar a reboque da mídia genérica, da abordagem superficial e de uma atuação destrutiva. Se ela não compreende a sua missão de ser a porta-voz do setor que atua, para o qual se especializa, ela passa a ter um efeito nocivo. Passa a ser o foco de discórdia, de intrigas e futricas, tão próprias aos agrupamentos humanos.As críticas devem existir, mas sempre de forma construtiva e com o objetivo de fortalecer o setor para o qual ela se especializa. Ao se especializar, cria-se um envolvimento de integrante do segmento que foi eleito. Deixa-se de ser expectador e de lavar as mãos. Tornar-se importante por intrigar, conflitar e embriagar-se pela távola dos 12 cavaleiros ou ficar como Nero tocando harpa quando assiste Roma ser consumida pelo fogo que ele próprio colocou é lamentável.No caso do turismo, as 29 entidades que assinaram a carta de apoio a Milton Zuanazzi deram uma demonstração de lucidez. No nosso mundo, a coragem tem sido substituída cada vez mais pela conveniência e oportunismo. Têm-se medo da opinião pública. Têm-se o receio da mobilização das massas enfurecidas, muitas vezes por uma mentira que acaba ganhando nuances de verdade, por ter sido repetida várias vezes.A Varig padeceu sozinha. Foram raros os que tiveram coragem de se alinhar em uma defesa histórica. Enquanto a maioria se acovardava, o Jornal de Turismo construiu uma das mais fortes defesas da companhia. Agora, no episódio do acidente de Congonhas, foi o Jornal de Turismo o único que saiu em defesa dos excessos cometidos pela imprensa contra a TAM. No caso do embate entre os setores de cruzeiros marítimos e hotelaria, nos posicionamos claramente para mostrar o quanto os nossos hotéis estavam sofrendo com a concorrência predatória. Enquanto os concorrentes desfilavam com cadernos recheados de publicidades dos cruzeiros, seguimos em nossa posição de mostrar o quanto a hotelaria padecia calada.Quando o Plano Nacional de Turismo foi engolido pela sede da mídia, que preferiu congelar uma frase infeliz, em detrimento de um projeto para 2007-2010 do nosso setor, fomos os únicos a assumir uma posição de protesto e em defesa do turismo. Fomos os primeiros a criticar duramente a Infraero, a ponto do editor de um jornal concorrente nos trazer mensagem da assessoria de imprensa da estatal com a qual tricotava. É só olhar nos nossos arquivos. Promovemos uma aproximação editorial pioneira e inédita com a Argentina, através de um acordo com o “El Mensajero”, que publica semanalmente a nossa página e vice-versa, e acabamos sendo copiados no mesmo modelo.O Jornal de Turismo agora é semanal, além do Rio, estamos com redação própria em São Paulo, Brasília e Florianópolis e abrindo a nossa unidade em Porto Alegre. Seguiremos fiéis aos princípios da nossa especialização, sem permitir que sejamos utilizados como meio para fazer com que a ignorância e a intriga se espalhem como erva daninha pelo nosso setor. (CM) Cláudio Magnavita

TAP fez a Europa descobrir o Brasil


Nos últimos seis anos assistimos a TAP ocupar o espaço de grande promotora do Brasil na Europa. Utilizar toda a sua estrutura de vendas enraizada no mercado europeu para a promoção dos mais diferentes destinos no nosso país.
O sucesso desta iniciativa representa uma ampliação do próprio mercado português, que, limitado por uma questão geográfica, viu a sua transportadora aérea se posicionar como a principal operadora do Atlântico Sul. De certa forma, reedita-se, séculos depois, a mesma utilização do posicio-namento estratégico de Portugal, para ser o elo de ligação entre o continente europeu e a América e a África. Foi este espírito que transformou o país em uma potência no século XV e espalhou os domínios lusi-tanos em quase todos os continentes.A TAP segue os mesmos passos. Encurta a distância que separa o nordeste brasileiro da Europa, disponibilizando nossas praias para portugueses, espanhóis, italianos, alemães, ingleses, entre outros, que descobrem as vantagens dos vôos diretos, com uma considerável redução do tempo de viagem.Em Lisboa - e agora no Porto - criaram-se sistemas práticos de enlaces de vôos, com conexões expressas e quase imediatas. Nesta meia década a empresa aprimorou os seus serviços, tanto de terra como de bordo, cresceu a sua frota e faz parte da nossa paisagem como uma companhia co-irmã, não apenas pela mesma língua, mas por estar intensamente vendendo o turismo bra-sileiro na Europa e apresentando resultados que se transformam em geração de renda e entrada de divisas para o País.Ao inaugurar o primeiro vôo direto entre Brasília e a Europa corrige-se um erro histórico. A Capital Federal do país era a única a não possuir vôos internacionais de longo curso. A TAP apostou e abriu o coração do Brasil para o mercado europeu. E não causará surpresa se os seus passos forem seguidos por outras empresas agora que ela provou que existe um mercado sólido e carente. Um dos méritos desta expansão da TAP foi o de estar em sintonia com o mercado. De estabelecer parcerias e corres-ponder com uma agilidade surpreendente às leis deste próprio mercado. Em Portugal, a regência de Luiz da Gama Mór neste sentido é fundamental, e no Brasil, a competência e capacidade de Mário Carvalho, diretor geral no país, é um desdobramento desta estratégia superior que é seguida com grande afinidade. Outro aspecto que devemos considerar e analisar é o importante papel que a TAP teve no Brasil durante a crise da Varig. O País perdeu a sua principal transportadora para Europa e o quadro só não foi mais crítico, pela existência da própria TAP, que garantiu o tráfego para Europa e buscou resolver o problema da Varig, apresentando soluções que, se tivessem sido adotadas, trariam um outro cenário para o País. Coube à TAP, neste episódio, salvaguardar o centro de manutenção da Varig, com a aquisição da VEM, preservando empregos e o centro de tecnologia, altamente estratégico para a aviação brasileira.Quando Fernando de Souza Pinto, Luiz da Gama Mór, Manoel Torres e Michael Conolly foram chamados para dirigir a TAP, não se poderia imaginar que entre os seus feitos estaria o de posicionar a TAP como um player global, capaz de ser tratado com respeito e como um dos principais membros da Star Alliance. E tudo isso em tão pouco tempo. E de uma forma segura e constante.O reconhecimento do papel da TAP para o crescimento do turismo internacional do Brasil só agora começa ser escrito. Trata-se de uma jornada que precisa ser resgatada e que envolve ações, que, aparentemente isoladas, ganharam uma dimensão de macro-estratégica. Uma delas foi de posi-cionar a companhia em todos os estandes do Brasil nas Feiras Européias. A imagem da companhia aérea está hoje associada na cabeça dos europeus que desejam conhecer o Brasil.Hoje os brasileiros que usam a TAP para suas viagens à Europa sabem que estão em casa nos seus vôos e os europeus, quando atravessam o Atlântico em direção ao Brasil, têm a certeza de estar à bordo de uma empresa plenamente identificada com o nosso país.Cláudio MagnavitaPresidente da Associação Brasileira dos Jornalistas de Turismo (Abrajet), membro do Conselho Nacional de Turismo (CNT) e diretor do Jornal de Turismo

A mídia como aliada e contribuindo para o PNT



A elaboração da nova redação do Plano Nacional de Turismo exigiu uma interlocução segura e constante com todos os segmentos que formam a nossa atividade. Este papel foi desempenhado com maestria pelo secretário Nacional de Políticas de Turismo, Airton Pereira, que comandou diversas reuniões setoriais realizadas já no final de 2006, com o objetivo de avaliar o plano original e preparar as reivindicações para 2007-2010.
Um conhecimento profundo de cada setor e a interlocução com as principais lideranças, reeditou de forma ampliada o trabalho já realizado para o documento referencial realizado meses antes. Foram reuniões produtivas, com o debate estimulado, que resultou em um documento que ouviu as bases. Não se trata de algo imposto pelo poder público, mas o resultado de um amplo dialogo e que só foi possível pelo conhecimento e humildade do secretário Airton. Para o poder público, saber ouvir é um mérito raro e principalmente quando o que é dito passa por críticas e são contra as posturas que fazem parte da política governamental.No processo de elaboração do Plano, atravessamos uma mudança de titular no Ministério e coube ao Airton Pereira ser o fio condutor das duas gestões e o guardião desta memória e do trabalho realizado. A ministra Marta Suplicy, ao não abrir mão da colaboração do titular da Secretaria de Políticas de Turismo, não só assegurou que a sua gestão ganhasse tempo, mantendo viva toda a redação do Plano Nacional de Turismo, como também terá o momento histórico de pilotar a execução de um plano que foi arduamente debatido e que teve na sua redação o Conselho Nacional de Turismo. Trata-se de uma conjunção histórica que teve a nossa entidade – a Associação Brasileira dos Jornalistas de Turismo (Abrajet) como testemunha e levando a importância da comunicação para uma atividade que depende da imagem como um dos seus insumos básicos. Os jornalistas de turismo puderam, através da sua entidade de classe, contribuir pela primeira vez para a elaboração de um documento e demonstrar que a mídia, muito mais do que hostil, pode ser uma parceira valiosa para um setor que atravessa um período de grande interlocução.

A notícia pode ser mortal quando verdade e dor não são respeitadas



Há exatamente dez anos, em julho de 1997, o jornalista Alberto Dines publicava no Observatório da Imprensa da Unicamp o seguinte comentário: “Pequenas perversidades pontuais que, se por um lado não conseguem esconder a cartelização comportamental, hoje imperante na mídia brasileira, pelo outro desnorteiam o leitor e deixam-no a sabor das irresponsabilidades como a confusão entre ATA e Iata cometida pela grande maioria dos veículos brasileiros e desvendada por um pequeno jornal: “The Brazilian Post”, em sua edição de 11/7/97.”
Passando uma década, assistimos a repetição e o agravamento do que Dines classificou de “cartelização comportamental imperante na mídia brasileira”. O problema parece só ter se agravado dez anos depois. O que estão fazendo com a TAM é novamente um absurdo. Estão crucificando a maior empresa aérea brasileira, chamando-a praticamente de mentirosa, tentando imputar a responsabilidade total do vôo 3054 ao reverso da turbina que estava desligado e seguia todo o manual de procedimento. Os manuais do fabricante são apresentados, laudos são fornecidos, diretores concedem entrevista, mas nada convence. Parecem que não querem ouvir nada além do que uma confissão de culpa. Parecem querer provar que a empresa agia de forma irresponsável, colocando 187 pessoas para voar em uma aeronave que não tinha condições. O pior é que este episódio tem como foco a mesma emissora, a Rede Globo, que há exatamente dez anos abriu espaço para levar ao ar no “Fantástico” uma entrevista do advogado aposentado David Stemper, apresentado como presidente da pomposa ATA (Air Traveller Association), que considerou a TAM a empresa mais insegura do mundo. De carona na Globo, todos os grandes jornais seguiram a pista e o assunto virou manchete. Como cita Alberto Dines, coube ao “The Brazilian Post”, sob o nosso comando, investigar e descobrir que a tal ATA tinha 11 dias de fundada, não possuía nenhum sócio, pertencia a um advogado aposentado da área de seguros e funcionava em uma saleta, num andar com 50 outras micro-empresas em Washington. Uma grande armação. O texto do Post foi republicado simultaneamente nos maiores jornais brasileiros. Hoje, assistimos ao mesmo filme. Querem colocar o carimbo de culpado em uma companhia que está agindo com correção desde do primeiro momento do acidente. Toda a comunicação com a imprensa foi impecável, minuto a minuto. Transparência absoluta. A falha em Porto Alegre no atendimento aos parentes foi conseqüência da quebra de um elo da corrente de comando, já que o Marco Antônio Silva, gerente geral da base estava a bordo do fatídico vôo. O que está sob ameaça não é apenas a imagem da TAM, mas de todo a aviação comercial brasileira. Por onde anda o Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea) que ainda não saiu em defesa da sua principal afiliada? Por que deixam a TAM sozinha nesta cruzada?As conseqüências deste tipo de especulação televisiva só joga mais combustível nas chamas que consumiram tantas vidas e que fizeram o País chorar. Especular antes das investigações e tentar perigosamente imputar responsabilidades antecipadas. É acirrar os ânimos e dar desconforto espiritual à famílias que precisam de paz. A angústia é aumentada por causa de um sensacionalismo que não faz parte dos manuais de redação dos veículos mais nobres da família Marinho. Se for provado que a ausência do reverso da turbina causou o acidente, a responsabilidade é do fabricante, que por escrito orienta os operadores a voar por dez dias com a aeronave neste estado. A TAM seguiu o que estava escrito e só. O avião, como a frota das maiores companhias brasileiras, seguem um rígido padrão de manutenção auditado internacionalmente, inclusive a própria TAM recebeu uma certificação internacional pela sua excelência em manutenção. Desconhecer isso é querer fazer jornalismo barato em horário nobre, aumentando a dor de familiares por dizer na entrelinha que o luto poderia ter sido evitado.O resultado disso pode ser medido pela hostilidade que a diretoria passou a ter por parte dos parentes e até a devolução de coroas de flores enviadas com sincero pesar.Dois dias depois do acidente em Congonhas, um Fokker 100 da mesma empresa fez uma correção da aproximação e pousou minutos depois no mesmo aeroporto. A repórter da GloboNews deu a noticia de forma sensacionalista, apavorando o País e dizendo que o avião seguiu para pouso em Guarulhos. O que não foi verdade. A notícia foi repetida exaustivamente toda uma manhã e migrou para a emissora principal.Assistir passivamente uma empresa e seus acionistas, que responde por mais de nove mil empregos diretos e que é a principal transportadora brasileira, que tem como missão transportar milhares de brasileiros com segurança, ser imputada antecipadamente como responsável por um acidente que os deixou também profundamente enlutados pela dor da perda de vidas, da imagem e de um trabalho ético e responsável é pactuar com a mesma reedição do absurdo que há dez anos teve o mesmo teor destrutivo por parte do mesmo veículo. Muito mais do que uma fria companhia, a TAM é uma empresa gerida por pessoas, que sentem, sofrem e se desdobram em um momento critico como este. E sabem bem, na própria carne, o que é perder um ente querido em um desastre aéreo. Foi assim que perderam o seu fundador, o inesquecível comandante Rolim Adolfo Amaro, ceifado estupidamente num momento que ainda poderia contribuir muito pelo País. E foi a família Amaro que assinou as notas oficias à sociedade, exatamente por saberem no coração, o tamanho que esta dor representa. Cláudio Magnavita é presidente Nacional da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo, membro do Conselho Nacional de Turismo e diretor do "Jornal de Turismo".

sábado

Dois terços dos navios são operados diretamente por companhias estrangeiras

Está tomando corpo a mobilização da hotelaria para combater a concorrência predatória dos navios estrangeiros que realizam cabotagem no litoral brasileiro durante a alta estação, afetando todos os meios de hospedagem nacionais. Depois de diversos editoriais do Jornal de Turismo sobre o tema, que resultou até em um embate com a Abremar, já está ficando bem mais claro para a classe política e aos formadores de opinião, a gritante diferença entre cruzeiros marítimos internacionais, aqueles que trazem turistas estrangeiros e que são benéficos para o país, e a cabotagem de navios estrangeiros que aportam aqui na nossa alta estação, que só este ano deverá desviar quase 300 mil passageiros do turismo doméstico.
Isso mesmo, do turismo doméstico, já que quando um brasileiro sobe a bordo de um desses navios está pagando tudo em dólar e este dinheiro é remetido ao exterior.
Ao se colocar a luz neste negócio, descobre-se cada vez mais argumentos que demonstram o efeito nocivo desta atividade para o país, não apenas na evasão de divisas, como também no bombardeamento da saúde da nossa hotelaria.
Dos quinze navios que estarão aportando no litoral brasileiro, só cinco serão fretados por uma empresa brasileira e terão a sua operação dentro de um investimento de capital nacional, operando dentro de critérios de nacionalização que incluem até o risco da operação. Nestes cinco casos, cabe ao fretante brasileiro, no caso a CVC, toda a operação, e as vantagens para o passageiro incluem até o serviço de all inclusive, ou seja, o open bar e todos os consumos a bordo. A legislação trabalhista é plenamente obedecida e o índice de nacionalização dos shows, programações artísticas, diretor de cruzeiros e staff é total. O navio está sob a regência do fretante e se houver lucro na operação o dinheiro fica no Brasil. É muito semelhante com o fretamento de aeronaves comerciais.
Já dois terços da frota estarão sob responsabilidade dos próprios armadores, que descobriram o paraíso no Brasil para colocar os seus barcos quando o hemisfério norte está sob um rigoroso inverno e os navios ficavam sub-utilizados. São barcos que oferecem planilhas que desafiam a lógica. Cobram aparentemente superbarato pela cabine e chegam a oferecer de graça a terceira pessoa e, quando o passageiro está a bordo, este tem que pagar U$ 3,5 por uma garrafa de água mineral. Nestes casos a receita de extras sempre é altíssima e tudo é pago em dólar ou no cartão internacional, como se estivesse no exterior.
A redução das vagas para brasileiros está chegando à área do entretenimento. A Ordem dos Músicos e o Sindicato dos Artistas devem ficar de olho para o crescente número de estrangeiros que são contratados para se apresentar a bordo. Quando o navio zarpa, no mesmo momento que abrem as portas dos cassinos a bordo e os estrangeiros começam a se apresentar, teoricamente estão em águas internacionais e não ficam sujeitos às leis brasileiras.
Finalmente o assunto começa a ganhar espaço em outros veículos da imprensa especializada, que apostam em medidas salomônicas. Acabam na realidade se distanciando do elemento básico do jornalismo, que é o fato e o registro da realidade. Nesta temporada não serão 15 navios? Dez deles não estarão sob operação 100% estrangeira? Não há evasão de divisas? A hotelaria brasileira não está sentindo na carne o efeito dessa concorrência predatória? Desses navios não são apenas cinco que estão sob contrato de fretamento?
A idéia de estabelecer uma centralização do debate no Ministério do Turismo é oportuna, todos os lados já aceitaram um debate, principalmente quando ele se torna inevitável. Dirigentes oficias do turismo já concordam com a tese da reserva de uma cota de cabines para ser vendida a não residentes, obrigando as companhias estrangeiras a usarem sua força de venda no exterior para atrair turistas estrangeiros.
O que a hotelaria defende é legítimo. Será inevitável que o tema migre para uma esfera de decisão maior, principalmente porque a janela que será aberta com a chegada dos 15 navios dará uma visibilidade ao assunto na própria mídia e os portos se transformarão em um excelente palco para manifestações e panfletagens.
Cabe à mídia especializada, que, por ser especializada, tem um importante papel nesta questão, informar corretamente. Principalmente quando o pivô da questão é a desinformação. O Jornal de Turismo sabe que seu papel é o de colocar o foco sobre os fatos e não podemos concordar com a tese de que a hotelaria deveria assistir calada a migração de seus hóspedes para concorrentes estrangeiros que promovem evasão de divisas. Faz parte do mundo moderno e democrático o direito de reclamar, principalmente quando o cenário armado prejudica o país e as empresas brasileiras.

“Jogo no time do turismo”ENTREVISTA


As últimas declarações da ministra do Turismo, Marta Suplicy, que ganharam grande repercussão são provas irrefutáveis de que a imprensa peca ao tentar cristalizar uma frase, isolando-a de um contexto mais abrangente. Ou seja, em nome de interesses políticos, ofuscou-se a grandiosidade do trabalho do Ministério do Turismo junto ao trade e, principalmente, ao povo brasileiro.

O Plano Nacional de Turismo (PNT) está dando continuidade à gestão anterior de Walfrido dos Mares Guia e aponta para um futuro de desenvolvimento econômico no País, através do turismo. Nesta entrevista ao jornalista Cláudio Magnavita, Marta disse ao que veio, como ministra, estrategista, ex-prefeita de São Paulo e mulher.

Cláudio Magnavita - Ministra, a sua gestão tem recebido o apoio das principais entidades representativas do setor turístico brasileiro. Como foi descobrir esse mundo mágico do turismo? Como tem sido sua experiência como ministra?

Marta Suplicy - O apoio de todo o trade turístico ao PNT foi uma descoberta. Revelou a força que o turismo tem - apesar de não termos a mesma pujança de outros países. Afinal, já competimos com a indústria automobilística.

CM - O lançamento do PNT contou com oito governadores de Estado, de deputados, senadores e do próprio presidente da República. Isso é um grande ato, para uma atividade que até então era praticamente desconhecida do grande público...

MS - Aos poucos, tenho percebido que o turismo é a área que mais gera emprego rapidamente. E isso vai desde as pessoas mais qualificadas até as mais humildes. Para o jovem, por exemplo, há muito campo, e com mobilidade social: ele começa a trabalhar num restaurante e, depois de 20 anos atuando nesse segmento, pode, qualificado, abrir um empreendimento próprio. A idéia do Plano Nacional de Turismo 2007-2010 é a da inclusão social. Por isso chamamos de uma “Viagem de inclusão”. Há 40 meses consecutivos o consumo aumenta no Brasil. Temos hoje uma venda espetacular de celulares. Três milhões de pessoas já tem o aparelho. Isso tudo sem contar o aumento de brasileiros que estão comprando automóveis. Nosso povo está consumindo, sim. Quem nunca teve acesso a um avião está se locomovendo nele. Esse mercado é novo para o turismo: muitas dessas pessoas nunca pensaram que poderiam usufruir do turismo com a sua família; conhecer uma bela praia do Nordeste; Ouro Preto; Brasília; mergulhar em Bonito; conhecer a Chapada dos Veadeiros ou o Pantanal. É uma coisa que ainda não deslanchou, porque o pessoal está ainda partindo para os bens de consumo. Mas na hora que o brasileiro perceber que vamos ter pacotes de R$ 500 a R$ 600, com pagamentos mensais de R$50, é pé na estrada e no avião.

CM - O crédito consignado pode beneficiar o público da terceira idade, que é fundamental para o desenvolvimento do turismo?

MS - Estamos falando de um público que pode consumir um pouco mais. O estudante, a classe média e o aposentado são públicos potenciais. Começamos pelo aposentado, porque ele construiu este País. Deve ter mais direitos entre todos nós. Através do crédito consignado, a agência de viagem faz o pacote que não onera em nada para o cidadão: o dinheiro do crédito vai direto para a operadora. Conseguimos isso através de uma portaria rápida do ministro da Previdência, o (Luis) Marinho. Ou seja, o dinheiro sai direto do INSS para a conta da operadora. Então, não há problemas de não recebimento por parte da operadora. A Caixa Econômica e Banco do Brasil, com juros abaixo de 1%, também permitiram a baixa do valor do pacote. Agora, as agências estão todas muito envolvidas em fazer um negócio diferenciado para o aposentado de 60, 70 e 80 anos.

CM -As pessoas podem viajar inclusive nos períodos de baixa estação?

MS - Com o projeto, ajuda-se o aposentado a viajar em pacotes mais acessíveis. O hotel do empreendedor permanece em atividade, e cheio, durante todo o ano. Isso alguns países já fazem de forma mais contundente que nós. Na Espanha, por exemplo, há quatro meses de grande estação. Depois, quando os hotéis ficavam vazios, as pessoas eram despedidas porque não tinham como manter toda a estrutura. O governo espanhol fez a conta, no sentido de avaliar se era mais proveitoso pagar seguros-desemprego para essas pessoas ou avalizar pacotes subsidiados para que o povo pudesse viajar em época de baixa estação, e manter os empregos. Eles resolveram que era mais barato. No Brasil, acreditamos no crédito consignado para aposentados na baixa estação, de sete a oito dias, em roteiros rodoviários ou aéreos - baratos ou um pouco mais caros, (respectivamente). Isso gerará um impacto muito bom para a economia. Num outro dia você me perguntou “onde começa essa história com os aposentados”? O Ministério quer participar da capacitação e do treinamento junto às agências, que também estarão recebendo pessoas que nunca entraram lá, e que podem ficar desconfiadas por serem agências muito elegantes. Mas é para entrar mesmo, porque ali estarão profissionais treinados que os atenderão com todo o carinho e respeito, mostrando os melhores pacotes para o idoso. Para treinar e organizar os pacotes, começamos com o Estado de São Paulo, que mais envia viajantes no Brasil e tem o maior número de aposentados. Brasília será o nosso segundo foco porque queremos que a região Centro-Oeste se torne um centro de viagens, que o Brasil se expanda também naquela direção. Todos irão viajar, prioritariamente, para o Nordeste: lugar onde mais se precisa de renda e emprego. Distribuição de renda, diminuição de desigualdades regionais e empregabilidade são as principais orientações do presidente Lula para o turismo - principalmente para o Nordeste. Estive em Cabrália e Porto Seguro – no evento da tocha olímpica dos Jogos Pan-Americanos -, e o pessoal estava preocupado com a baixa freqüência. Isso é muito ruim para um lugar tão bonito, em que o idoso poderia ir. É um privilégio desfrutar daquela praia agradável e da nossa gastronomia. Isso tudo agora será mais acessível.

CM - Gostaria de falar da responsabilidade de estar num ministério criado por iniciativa pessoal do presidente Lula, e de a senhora ter sucedido o Walfrido dos Mares Guia. O sucesso de uma gestão está na equipe, parcialmente preservada, somada ao que a senhora trouxe de novos talentos para o Ministério?

MS - O ministro Walfrido foi uma sorte. Entrou num Ministério novo, chamando, com muita sensibilidade, as pessoas que trabalhavam na área. Foi através dos secretários de turismo dos governos, dos municípios e de todo trade, que se criou o Conselho Nacional de Turismo (CNT), com mais de 60 cadeiras representativas: todos pensando num plano para 2003-2007. Esse plano resultou num planejamento de marketing muito importante para o turismo. Agora, que estou entrando nesse setor, vejo como os países que têm o turismo desenvolvido trabalham. Eles não brincam em serviço: gastam fortunas em marketing. Dubai, que há quatro anos recebia menos de dois milhões de visitantes, hoje passou o Brasil. Tem uma propaganda gigantesca, linhas aéreas. O retorno do investimento em turismo é muito lucrativo e fabuloso. É uma atividade muito rápida: se o Produto Interno Bruto cresce a 3%, o turismo vai a 5, 6%. Se tem 4%, o turismo chega a 7, 8%. É uma área que requer investimento. Essa pesquisa encomendada pelo Mares Guia, possibilitando criar um novo Plano para 2007-2010, tornará o Ministério ainda mais profissional. Não temos 'achômetro', mas, sim, pesquisas. Por exemplo, no exterior, temos o Plano Aquarela, que revela os países em que mais devemos investir em propaganda. Argentinos, americanos, portugueses, italianos e alemães são os que mais visitam o Brasil. Vamos investir nosso plano de marketing na Argentina, nos Estados Unidos, em Portugal (com menos força) – já que de lá vêm 400 mil turistas. Temos um teto. Vamos manter nossas relações: agora, a TAP está realizando cinco vôos novos entre Lisboa e Brasília. Cinco para o Galeão, e outros três para São Paulo – totalizando quase 60 vôos de freqüência. É um ótimo mercado. Vamos agora para os ingleses e alemães, onde nunca investimos.

CM - A então prefeita de São Paulo, que introduziu o Eduardo Sanovicz na administração do Anhembi Eventos, agora o vê, com seu trabalho refletido em âmbito nacional, no Ministério. Conte-me um pouco dessa história.

MS - O Eduardo Sanovicz foi muito bom para o Anhembi. Colocou-o de pé, reformou-o em grande parte, e o fez sair do vermelho, gerando lucro. Ele foi convidado pelo Mares Guia para assumir a Embratur. Reorganizou toda a empresa de uma forma muito experiente. A Jeanine (Pires, atual presidente da Embratur) é um dos tesouros que ficaram. Tem muita experiência, é jovem e dinâmica. Fiquei contente de o Mares Guia não a ter levado, já que ela é de turismo, e ficou no Ministério. Nossa atual equipe não pode se esquecer do mercado interno. Se temos cinco milhões de pessoas que vêm visitar o Brasil - queremos aumentar -, temos também 50 milhões de brasileiros que viajam por aqui. Essa é a força da hotelaria e do turismo interno, que gera empregos e divisas. Isso atrai também pessoas de fora, que podem usufruir de uma rede hoteleira consolidada.

CM - O Márcio Favilla, que era o secretário Executivo do Ministério, pediu para lhe falar sobre a Secretaria Executiva e a própria estrutura do Ministério. Ele teve uma conversa de quase três horas com a senhora, e saiu do seu gabinete encantado com a sensação de que o trabalho teria continuidade. Essa é uma marca da Marta Suplicy, da época em que era apresentadora de TV - de não pré-conceitualizar, antes de tomar uma decisão correta?

MS - Temos de ter a humildade de saber que estamos entrando numa área que não entendemos. O Mares Guia escolheu as pessoas mais indicadas: o Sanovicz, que estava no Anhembi, o (Milton) Zuanazzi, que também é um homem do turismo. Chamou todo o trade e disse: “vamos trabalhar juntos”. Eu também chamei as pessoas corretas para conversar. O próprio ex-ministro também me pôs muito a par dos acontecimentos. A partir disso, você começa a ler, estudar e ouvir mais atentamente. Como ex-prefeita de São Paulo, tive a sensação de como o turismo teve um impacto. Tivemos aqui a Octad, maior evento da ONU. Foi difícil conseguir: a ONU tem exigências de segurança e espaço para realizar o seu evento, que são o “top do top”. Conseguir trazer esse tipo de evento para São Paulo e realizá-lo de forma exitosa foi importante para nós.

CM - É interessante o apartidarismo do setor turístico. A senhora esteve agora há pouco reunida com o prefeito de SP, o Gilberto Kassab...

MS -
Como ministra, não tenho problemas com os organismos que tenho de trabalhar. A cidade de São Paulo tem mais números de eventos e recebe e emite mais turistas no Brasil. Na área de lazer, o Rio é mais significativo. Mas, se somarmos lazer e bussines em SP, essa cidade realmente 'chama' mais visitantes. A prefeitura é o coração disso tudo. Propomos a ele transformar o Campo de Marte num novo Anhembi, em comparação à Feira de Milão. Vamos investir no Anhembi também. Ele ficou encantado com a idéia de uma rodoviária na Zona Leste. O turismo que essa região tem simpatia é o de um dia, como o de visitações à Aparecida do Norte, por exemplo.

CM - A cidade de São Paulo é metropolitana. Tem uma dimensão geográfica estrondosa. Só que a política pau-istana se manifesta de maneira muito pequena. O que falta para mudar a cabeça dessas pessoas, no sentido de se pensar a cidade como ela realmente merece?

MS - As pessoas que moram em São Paulo têm consciência da importância da cidade. Quem está aqui pensa sempre a partir de uma perspectiva de metrópole cosmopolita. Nada aqui é pequeno. Conseguimos exercer impacto quando fizemos um bilhete único ou um CEU. Governar São Paulo é um desafio gigantesco. Voltar para cá é uma emoção boa. Agora o palácio do Anhangabaú é um orgulho. Vieram um pouco as lembranças difíceis de se lembrar: as decisões difíceis da prefeitura.

CM - Gostaria de mergulhar agora na sua experiência de mãe, mulher, gestora, no momento em que o turismo está sob gestão feminina no Senado, na Câmara, na Embratur, no Ministério e agora, que a Organização Mundial do Turismo terá a mulher no centro do debate de sua reunião.

MS - É uma coincidência feliz. O século 21 é o das mulheres. Podemos ter uma presidente na Argentina. No Chile, temos a Michele Bachellet. A Angela Merkel está fazendo um trabalho extraordinário na Alemanha. As mulheres aos poucos estão chegando lá. O Brasil é um país com muitos paradoxos nesse sentido, e eu estou feliz com o Ministério do Turismo.

CM - O seu nome poderia ser o escolhido para comandar o Brasil?

MS- Ainda é muito cedo para falar sobre isso e e eu estou feliz com o Ministério do Turismo.

CM - Recentemente, a imprensa congelou uma frase da senhora, utilizando-se politicamente de um tema, ofuscando o teor do próprio PNT. As entidades do setor se solidarizaram, pedindo que os jornais voltassem seus holofotes para o Plano. Como a senhora avalia esse episódio?

MS - A frase foi no sentido de que as pessoas não desistissem de viajar. É realmente como um parto: todos sofrem no aeroporto, mas depois tem a alegria imensa de viajar. Infelizmente a frase se transformou em tudo o que não quis dizer. Fiquei triste porque foi um dia de muita importância para o Ministério do Turismo. Mas o Plano para 2007-2010 acabou sendo pouco falado. É uma “Viagem de Inclusão”, para criar mais de 1 milhão e 700 mil empregos, com metas de divisas para o Brasil. Serão 65 regiões a serem consideradas como modelos de nosso desenvolvimento turístico. Temos muito mais que 65 - mas não temos recursos para investir em mais que isso, num primeiro momento. Depois, vêm os planos de agregar os estudantes, o trabalhador e o aposentado, para que possam conhecer o Brasil. O estudante só vê o País pelos livros ou pela TV. O presidente falou que Villa-Lobos ganhou de seu pai uma biblioteca grandiosa, mas ele preferiu vendê-la para percorrer o Brasil. Estendeu a viagem, influenciando enormemente a sua vida e composição musical. O estudante que viaja tem a janela aberta para o mundo. É um vivenciamento que muda a cabeça das pessoas.

CM - Alguns jornais foram refratários a uma agenda positiva. O trade se mobilizou para divulgar seu apoio a senhora, através de um comunicado público. O que a senhora sentiu ao perceber essa manifestação pública de apoio, em diferentes entidades do turismo?

MS - Senti que sou do mesmo time. Foi uma união, com uma solidariedade muito grande, de pessoas que estão na mesma equipe, dispostas a fazer com que o Ministério do Turismo cresça junto com o Brasil, levando o nome do nosso País a um patamar tão belo quanto sua beleza.
Cláudio Magnavita / JT

segunda-feira

Trade se mobiliza em apoio à ministra

As entidades de classe se mobilizaram 24 horas depois do lançamento do Plano Nacional de Turismo para dar apoio público à ministra Marta Suplicy. A mídia preferiu cristalizar um momento infeliz da entrevista, congelando alguns segundos de uma declaração que foi imediatamente seguida por um pedido formal de desculpas, do que abordar o teor do lançamento, que foi, sem dúvida, um dos eventos mais importantes do turismo politicamente.
Primeiro, foi a escolha da solenidade, ocorrida durante uma sessão do Conselho Nacional de turismo, fazendo parte da agenda original. Segundo, a presença do próprio presidente da República, de seis ministros, do presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (em um dia de votação delicada) e das presidentes das Comissões de Turismo da própria Câmara, Lídice da Mata, e do Senado, Lúcia Vânia.
A reação dos dirigentes do trade de virar a página e fazer colocar o foco no que realmente interessa, o Plano Nacional de Turismo - que na sua segunda edição foi arduamente trabalhado no próprio Conselho de Turismo - foi madura, corajosa, altiva e demonstrou que a própria ministra, que é recém-chegada no setor, já ganhou a admiração e o respeito de todos, principalmente pela sua acertada decisão de seguir os princípios do plano de trabalho do seu antecessor, Walfrido dos Mares Guia, e de aprimorar as rotinas.
O Plano atual cobre uma lacuna histórica, a falta de um planejamento estratégico que pense o setor a médio e longo prazos. O que está escrito é o que deve ser seguido nos próximos anos. A sua leitura é uma missão obrigatória para todos aqueles que trabalham e dependem do setor. Muito mais do que um conjunto de metas é um conjunto de ações bem definidas e capazes de gerar 1,7 milhão de novos empregos. Só de divisas deverá proporcionar o ingresso de 7,7 bilhões de dólares; ao contrário do que muitos querem fazer acreditar. A missão principal do turismo interno é promover o ingresso de riquezas e não a sua evasão.
Perante o trade, a ministra sai fortalecida. O episódio e o embate com a imprensa serviram para consolidar e estreitar uma relação de confiança. O apoio que lhe foi hipotecado foi fruto de uma avaliação de seus primeiros meses no cargo, do perfil da equipe que montou e de uma atuação transparente. O Ministério não está sendo pensado a curto prazo, como muitos chegaram a pensar, mas de uma forma mais ampla, pelo menos até o fim do atual Governo.
O presidente Lula sempre se sentiu em casa nos eventos do turismo. Sempre teve pronunciamentos marcados pela descontração, foi assim nas duas Feiras da Abav e nos Salões do Turismo, só que desta vez o cenário foi Brasília e os algozes de plantão estavam a postos para cumprir uma pauta negativista. Foi neste cenário que o presidente se descontraiu e do fundo da alma arrancou o registro de como a imprensa brasileira vive uma fase de notícias negativas em excesso. O troco lhe foi dado em manchetes pejorativas e reclamando do excesso de informalidade. Por descontração, a ministra Marta foi infeliz numa frase que, congelada, suplantou em repercussão para a sociedade civil o próprio teor do documento que estava sendo lançado. Nem o pedido de desculpas amenizou a ira e a sede de sangue. A critica do presidente à própria imprensa, realizada minutos antes, só aguçou o apetite e o que se viu é o desdobramento de um quadro de múltiplos interesses político-partidários. A decisão do trade e das principais entidades de pedir que esta página fosse virada é sensata. Demonstra união, mobilização e maturidade. Um setor que não se acovarda e sai em defesa daqueles que ganharam o seu respeito. Leia na integra a nota distribuída à imprensa pelas principais entidades do turismo:
Como membros do Conselho Nacional de Turismo, por meio desta manifestação pública, queremos reafirmar o nosso respeito e consideração pela Ministra de Estado do Turismo Marta Suplicy. Ela assumiu em março passado o cargo, que havia sido exercido com muita dedicação e sucesso pelo seu antecessor Ministro Walfrido dos Mares Guia. Na solenidade de posse, a Sra Ministra assinalou que daria continuidade aos programas e ações em desenvolvimento do setor e que buscaria o aperfeiçoamento do trabalho. Ela tem cumprido. Em pouco tempo conseguiu apresentar, discutir e aprovar junto à cadeia produtiva do turismo, a segunda edição do Plano Nacional de Turismo – PNT, que começou a ser elaborado ao término da gestão Mares Guia. Um trabalho, portanto, referendado por todos nós.
Queremos aqui, retomar a importância do PNT, um conjunto de metas e objetivos, que foram exaustivamente debatidos durante vários meses e que teve a participação de 100% de todo o nosso Conselho, um trabalho que ensejará, até 2010, 1,7 milhão de novos empregos, a geração de 7,7 bilhões de dólares de divisas e conseqüentemente enormes benefícios ao país.
Esperamos que o resgate destas informações e da dimensão do Plano Nacional de Turismo possam ser compreendidos em sua plenitude, até porque o seu lançamento contou com a presença do próprio Presidente da República, seis Ministros de Estado, oito Governadores, Parlamentares, Corpo Diplomático e da sociedade civil.
Brasília, 14 de junho de 2007
João Martins NetoPresidente da Abav - Associação Brasileira de Agências de Viagens
Norton Luiz LenhartPresidente da Federação Nacional de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares
João Luiz MoreiraFederação Brasileira de Convention e Visitors Bureaux
José Eduardo BarbosaPresidente da Braztoa – Associação Brasileira de Operadoras de Turismo
Paulo SolmucciPresidente da Abrasel- Associação Brasileira de Bares e Restaurante
Eraldo Alves da CruzPresidente da ABIH – Associação Brasileira da Industria de Hotéis
Cláudio Magnavita CastroPresidente da Abrajet – Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo
Apostole Lazaro ChryssafidisPresidente da Abetar - Associação Brasileira das Empresas de Transporte Aéreo Regional
Allain Baldacci Sindepat – Sindicato Nacional de Empresas de Parques e Atrações Turísticas
Dárcio BertoccoUbrafe - União Brasileira de Promotores de Feiras
Margareth Caron Sobrinho PizzattoAbraccef – Associação Brasileira de Centros de Convenções e Feiras
Alexandre ZubaranAssociação Brasileira de Resorts (Resorts Brasil)
Roberto DultraAssociação Brasileira de Turismo Receptivo Internacional – Bito
Sávio Neves FilhoPresidente da Abottc – Associação Brasileira das Operadoras de Trens Turísticos e Culturais

Temporada com número recorde de 15 navios deverá provocar efeitos nefastos à hotelaria

Os navios estão chegando... Durante o evento Cruise Day 2007, realizado em São Paulo, foram anunciados o desembarque de 15 navios para 2007/2008. O volume cresceu quase duas vezes e meia desde do início de 2004. A falta de estrutura dos portos brasileiros para este volume é tão assustadora, que os próprios armadores estão disputando a tapa as vagas para evitar um colapso operacional, principalmente no porto de Santos.
Em alguns casos, a situação é critica, como Búzios. Sem escalonamento, o colapso na cidade é absoluto. Como as datas de saída seguem um mesmo calendário (Natal, Réveillon, Carnaval etc) é impossível tirar a sincronicidade das saídas. Estamos à beira de um apagão portuário por completo despreparo operacional de cidades que seriam visitas, como é o caso de Vitoria, Ilhéus, Angra, Cabo Frio, Florianópolis, Salvador, só para falar das principais.
No ano passado foram 300 mil turistas e neste ano o volume será ainda maior. Na realização do Cruise Day ficou claro que tudo está correndo muito solto, sem uma regulamentação, sem um controle e uma organização central. Foi o que levou o presidente da Abremar, Eduardo Vampré do Nascimento a ser recebido, junto com Guilherme Paulus, da CVC, pelo Ministério do Turismo, quando foi tentando ressuscitar uma decreto que outorgava ao então Ministério do Turismo e dos Esportes a regulamentação do setor.
Ao se conhecer o gigantismo do setor, achar que não há impacto nesta operação no fluxo turístico nacional é tapar o sol com a peneira. São 15 navios de bandeira estrangeira, com as suas operações pagas em dólar, atuando exclusivamente na alta estação, que geraram, segundos dados da Abremar, na ultima alta estação apenas 1377 empregos a bordo. É o equivalente ao número de funcionários de três resorts de porte médio. Só o Complexo de Sauípe gera 3.100 empregos diretos. A média de funcionários brasileiros a bordo é de 130 pessoas por navio, ou seja, menos de 20% do empregos gerados que são todos ocupados por estrangeiros.
O setor mais atingido, os 40 resorts brasileiros, geram conjuntamente 16 mil empregos diretos, e isso não apenas na alta temporada como é o caso dos cruzeiros de cabotagem. Nos hotéis o emprego é durante todo o ano.
Enquanto existe uma visível proliferação desordenada dos cruzeiros de cabotagem no mercado brasileiro, as viagens dos cruzeiros internacionais, aqueles que trazem estrangeiros para o Brasil e que trazem divisas, são obstruídas por uma legislação estúpida e protecionista. Como a costa brasileira é muito grande, os transatlânticos estão impedidos de operar em mais de um porto no País, ou seja, não se pode atracar em Salvador e no Rio. Ligar duas cidades em uma só viagem o fazem cair na regulamentação de cabotagem. O Rio, que concentra as maiores paradas, recebeu no ano passado apenas 44 navios estrangeiros. O número poderia ser maior se houvesse uma multiplicidade de destinos no País.
Em todo o mundo, a regulamentação da cabotagem visa também proteger a indústria naval. Se o negócio é tão bom, está na hora de se criar mecanismo para que tenhamos os nossos próprios barcos. Um país que constrói avião a jato e que possui uma indústria naval instalada, capaz de produzir superpetroleiros, poderia fabricar navios de bandeira brasileira para operarem no nosso litoral. O grande problema é que os nossos navios estariam restritos ao mercado brasileiro, já que nenhuma outra nação que tenha a costa marítima que possuímos tem uma legislação tão liberal que permita a evasão de divisas e a concorrência com a base hoteleira instalada.
Colocar o Ministério do Turismo como agente de regulamentação neste jogo, como sugeriu a própria Abremar é colocar uma luz neste fim de túnel. É colocar ordem na casa, estabelecer prioridades para uma operação sadia e que equilibre os efeitos nocivos deste crescimento desenfreado.
Se os próprios cruzeiros de cabotagem estão à beira de um colapso operacional pela falta de ordenamento dos portos e das escalas, imagine como está toda a hotelaria nacional sofrendo com essa concorrência predatória e sem nada semelhante no mundo.
Os reflexos nocivos são fruto de uma desordem absoluta, de uma proliferação de novos produtos, que além de não gerarem empregos e trazerem divisas, ainda enfraquecem a base hoteleira instalada à base de sacrifício e investimentos permanentes.
O assunto tem sido colocado de forma ordenada pelos líderes hoteleiros e ganhado atenção dos parlamentares contra esta farra que este ano colocará 15 navios estrangeiros no litoral brasileiro. É como se a Flórida fosse arrastada magicamente para o nosso litoral em toda alta estação e sugasse os nossos turistas e as nossas divisas. Uma concorrência predatória que pode ter na ação do Ministério do Turismo uma solução.

Campanha pela flexibilização dos vistos entra em processo de maturidade


Pela primeira vez assistimos o trade turístico, neste caso capitaneado pela ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), a decana entidade do turismo, como 71 anos de existência, elaborar uma mobilização correta em favor de uma causa que se coloca acima do bem e do mal. Trata-se da flexibilização dos vistos para turistas norte-americanos, australianos, canadenses e que permitirá um ingresso maior de divisas para o País.
O projeto, que nasceu de um estudo do hoteleiro carioca Pedro Fortes, ganhou corpo, virou projeto do deputado federal, Carlos Eduardo Cadoca e já foi aprovado pela rigorosa Comissão de Justiça da Câmara. Está pronta para ir para o Plenário.
O dia 31 de maio será histórico. Em um só dia, uma comissão de notáveis do nosso turismo, liderados por Eraldo Alves da Cruz e com a presença marcante de Álvaro Bezerra de Melo, foi recebida em audiência pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia, quando a defesa do projeto foi didaticamente realizada. O encontro, que deveria ser protocolar, transformou-se em uma reunião de trabalho com o próprio presidente do Congresso, orientando sobre os próximos passos que deverão ser dados, entre eles uma conversa com o líder do Governo na casa, o deputado José Mucio. Encerrada a reunião, que contou com expressiva presença parlamentar, dos mais diferentes partidos, o grupo marchou para o Gabinete do líder, onde foram recebidos e, novamente, o que seria um encontro protocolar se transformou em uma reunião de trabalho, deixando já agendado para o início de junho uma reunião do deputado Cadoca com todos os líderes para a apresentação sucinta do projeto.
A articulação do Itamaraty vem sofrendo um contraponto importante realizado pela própria ministra do Turismo, Marta Suplicy, que, em conversa com o chancelar Celso Amorim, já teve sinalizações positivas sobre a redução da oposição do corpo diplomático.
Tanto Chinaglia, quanto José Mucio, apontaram o caminho das pedras no convencimento parlamentar para que o projeto possa ir a votação no plenário. Será um trabalho árduo e que dependerá de uma mobilização ainda mais madura do trade turístico.
O empenho da ministra Marta será fundamental para eliminar os focos de oposição dentro do próprio PT, aliás, o maior deles. É como se o Governo estivesse totalmente contra a medida, quando, na realidade, dentro do próprio Palácio do Planalto, o ministro Mares Guia é totalmente favorável a políticas de flexibilização que permitam aumentar o fluxo de turistas. Na última semana, um congresso internacional com 2.500 participantes riscou o Brasil como sede. Só de vistos os organizadores teriam de arcar como mais de US$ 100 mil de despesas extras, só para atender os mil norte-americanos que participariam do evento.
Já na Comissão de Turismo da Câmara, o terceiro ponto de parada do grupo, a deputada Lídice da Mata se colocou totalmente favorável ao projeto e prometeu inclusive abrir um espaço na Comissão para que o assunto pudesse ser didaticamente explicado, já que o projeto tramita sem precisar ser submetido formalmente à Comissão.
O que se assiste é um feito memorável, só possível para quem conhece os meandros e os corredores de Brasília, como é o caso do hoteleiro Eraldo Alves da Cruz, que sempre viveu na Capital Federal. Quando assumiu a entidade, numa solenidade no Hotel Pestana em Salvador, durante o Fórum Mundial de Turismo, os hoteleiros não imaginavam o alcance do seu novo líder e do seu poder de fogo entre governantes e parlamentares.
Trata-se de uma mobilização constante e espera-se que no próximo dia 13 de junho, quando será lançado o Plano Nacional de Turismo 2007-2010, seja possível uma mobilização ainda maior e que os focos de oposição sejam extintos pelo argumento de geração de emprego e divisa, colocando o turismo brasileiro num patamar de competitividade nos maiores mercados emissores.

Regulamentar a cabotagem colocará um ponto final na concorrência predatória


O sentimento de mobilização dos hoteleiros com relação à atuação desenfreada dos navios no litoral brasileiro está crescendo. O manto do bom senso está levando muita gente a rever os seus conceitos sobre o efeito nocivo da cabotagem em águas nacionais.
Em uma recente reunião de uma regional da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), o proprietário de um veterano hotel quatro estrelas deu a seguinte explicação aos seus colegas: “imaginem se na alta estação a American Airlines e a United trouxessem os seus aviões para realizar vôos domésticos no Brasil, transportando só brasileiros e realizando uma concorrência predatória com os empresários brasileiros? É exatamente isso que as empresas que fazem cabotagem no litoral brasileiro exercem. São hotéis flutuantes que vem concorrer com a gente só na alta temporada, e depois vão embora...”.
Um dos erros em todas as matérias, inclusive do próprio JT, é se referir à cabotagem como cruzeiros marítimos. As viagens internacionais, ou melhor, os cruzeiros que passam pelo país trazendo estrangeiros, portanto, divisas, são bem vindos e esse tipo de viagem marítima acaba servindo de cortina protetora para a ação predatória exclusiva no mercado interno.
O trade deve incentivar a vinda de cruzeiros internacionais. O Brasil cresce nesse cenário, inclusive o Rio de Janeiro. O que não devemos ficar omissos é para os barcos que estacionam nas nossas águas, que transportam só brasileiros e depois partem carregados de reais e deixando a nossa hotelaria sem seus hóspedes.
O modelo de contrapartida que propomos é simples. Basta limitar a comercialização para obrigar que esses grandes operadores internacionais usem a sua força de venda no exterior e tragam turistas estrangeiros. É só estabelecer uma cota para que 40% da ocupação seja reservada para passageiros não residentes no Brasil.
O atual quadro cambial será ainda mais cruel para a temporada que se aproxima. As viagens domésticas em navios, que são pagas em dólar, ficaram com preços menores, o que atrairá mais passageiros e deve tirar hóspedes que poderiam passar suas férias em resorts brasileiros.
Essa idéia acaba de ganhar um valioso aliado. Janick Daudet, presidente do Club Med na América do Sul e que sempre se manteve distante das associações de resorts, em recente entrevista à TV JB, confirmou o seu apoio à idéia de uma cota para não residentes. “O turismo brasileiro poderia ganhar muito, já que essas companhias internacionais possuem uma força de venda muito forte no exterior e poderiam trazer estrangeiros para ocupar parte das suas viagens no Brasil. Todos nós estamos sentindo o efeito desta concorrência que ocorre em cada alta temporada”, afirmou Daudet. Ele sabe o que fala: no passado, foi diretor de cruzeiros do próprio Club Med, do qual faz parte do board internacional.
Regular a cabotagem desses barcos internacionais em águas brasileiras, estabelecer uma cota para não residentes e apertar a fiscalização trabalhista deverá ser a saída que o mercado vai buscar.
A defesa do turismo: uma missão que o JT leva muito a sério
Na edição passada abrimos espaço para reclamar do que ocorreu em Santa Catarina e que demonstrava um excesso na exposição de pessoas que acabavam sendo previamente condenadas por uma vergonhosa exposição pública. A manchete do Jornal de Turismo foi praticamente reeditada na última semana de maio, quando os maiores jornais brasileiros dedicaram as suas manchetes para o protesto nacional que tomou conta com uma nova operação da Polícia Federal.
Como veículo especializado, fomos os únicos a assumir uma corajosa posição em defesa de empresários do turismo, vitimados pelo circo de mídia armado. A dor dessas vítimas foi agravado pela omissão, não só de lideranças do trade, mas de todos aqueles que se dedicam ao jornalismo especializado.
A missão de um jornal não é apenas informar, mas também de formar. De formar opinião e fazer surgir um sentimento de indignação perante o errado, o vergonhoso, o que não é justo.
Ao ver a essência da nossa manifestação ser reproduzida nas manchetes de jornais nacionais que hoje questionam em conjunto os excessos da Polícia Federal e destas operações que já beiram o sensacionalismo, nos sentimos mais confiantes para seguirmos em frente na nossa missão. Foi assim na defesa da Varig. Por muitas vezes nos sentimos sozinhos. A omissão da mídia no caso da maior companhia aérea do País foi patético.
A mesma solidão ocorreu em Santa Catarina. A ampulheta do tempo sempre nos ajuda a provar que estávamos certos. O pecado da omissão nunca poderá se manifestar quando se pratica um jornalismo com dignidade, com verdade e que se traduz numa missão, onde os elementos de covardia não se manifestam.

O exemplo de Luiz Henrique


Dentro de todo o trauma por que passou o trade turístico de Santa Catarina com a ação da Polícia Federal, que, como se apurou, levou de forma injusta os mais importantes nomes do setor ao pelourinho público, um único fato positivo surgiu no final deste tenebroso túnel. Trata-se da postura corajosa do governador do Estado, Luiz Henrique da Silveira, que demonstrou toda a sua coragem e fibra ao se contrapor ao excesso cometido contra Fernando Marcondes, empresário e presidente do Costão do Santinho e Marcílio Ávilla, presidente da Santur (Empresa de Turismo de Santa Catarina) e vereador de Florianópolis.
No caso do Marcondes, o governador abriu o Palácio e recebeu o empresário para um jantar. Avalizou publicamente a sua lisura e atuação empresarial à frente de um empreendimento que mudou a história do turismo catarinense. Ao fazer isso, o governador foi o porta-voz de uma sociedade que estava indignada em ver um dos homens mais sérios do setor empresarial catarinense e o maior empregador da ilha de Florianópolis incluído injustamente em uma operação policial que teve como foco principal outros envolvidos.
A decisão de Luiz Henrique, de receber para um jantar de desagravo o casal Iolanda e Fernando Marcondes, chegou a ser duramente criticada em manchete condenatória do jornal "Folha de São Paulo", que, tendenciosamente, proclamava o ato como estarrecedor, como se o empresário fosse um criminoso. Em nenhum momento o jornal paulistano se debruçou sobre o fato para entender que a pessoa recebida pelo governador não era um bandido, mas sim uma vitima de truculência jurídica que o privou da liberdade por 36 horas e o submeteu ao canibalismo de uma imprensa voraz e incapaz de reparar, com igual veemência, os erros de suas manchetes.
A mesma atitude digna e corajosa teve o governador Luiz Henrique com o seu auxiliar Marcílio Ávilla, atual presidente da Santur e um dos novos valores da política de Santa Catarina. Vereador de Florianópolis por dois mandatos e presidente da Câmara por um, onde realizou um trabalho moralizante que o credenciou para a reeleição, Ávilla também teve o seu nome incluído injustamente no processo e chegou a ter a sua prisão provisória decretada. Se não estivesse no exterior em missão oficial, ele teria passado pelo vexame de ser preso e algemado equivocadamente. Regressando ao país, ele foi depor e, já que não havia nada que justificasse a sua inclusão no processo, foi liberado imediatamente. Ele foi recebido pelo governador e não apenas foi mantido no cargo como Luiz Henrique fez questão de reafirmar publicamente a sua confiança em Ávilla e na sua inocência no processo.
É notável o trabalho que ele vem desenvolvendo à frente do turismo catarinense. Em cinco meses na presidência da Santur, promoveu uma valorização do órgão e do pessoal da casa, ampliou um diálogo com o trade e trouxe uma transparência nunca vista anteriormente. Cada ação da empresa é rigorosamente prestada conta para todos os dirigentes do turismo catarinense. Interromper este trabalho de promoção do Estado é que seria um crime.
São nessas horas de fogo, onde as pessoas se acovardam e se escondem em um pré-julgamento doentio de se considerar o outro como culpado até que se prove a inocência, subvertendo um milenar princípio do direito, é que se tem a oportunidade de conhecer o caráter do governante e dos homens públicos. O caso do governador Luiz Henrique é exemplar, fruto de uma coerência política que o levou a se afastar do Governo para enfrentar uma reeleição. Fruto de um passado de luta e aguerrimento. Ao lembrar da sua própria prisão na época da ditadura e do drama que sua família enfrentou, Luiz Henrique virou um leão. É um exemplo para outros governantes e um contraponto importante para estabelecer um limite que ajude a preservar o estado de direto. Atitudes que o credenciam para vôos mais altos em um cenário republicano tão pobre de homens da sua têmpera.
A grande vítima seria na verdade o próprio Estado de Santa Catarina, que sem a reação altiva do seu Governador passaria ao mundo que os investidores estavam órfãos, que os empreendedores corriam riscos. Mesmo assim, a primeira reação do empresariado nacional foi de susto. Investidores internacionais já não pensam mais em empreender em equipamentos turísticos de Florianópolis. O trabalho do Governo será de reconstrução desta credibilidade. O governador já deu o primeiro passo. E um belíssimo passo, que merece ser aplaudido em pé

Noronha procura as suas raízes para crescer como destino turísticoMAGNAVITA



A visita da executiva nacional da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo (Abrajet) a Fernando de Noronha será um marco na história do turismo local. Pela primeira vez uma entidade do trade leva os seus dirigentes nacionais ao arquipélago e pela primeira vez há uma interação profunda entre os moradores locais e os profissionais da imprensa especializada em turismo. Tudo isso ocorreu por um fator que facilitou este diálogo: o comando da ilha estar na mão de um profissional do setor e os empresários locais estarem organizados em uma associação. Transportados pela Gol/Varig, 42 jornalistas visitaram a ilha e tiveram a oportunidade de conhecer as pousadas-familiares, na verdade, meios de hospedagem que já beiram a sofisticação e contrapõem o aspecto de improvisação.

O mais importante é que a ilha passa por um processo de profunda reavaliação. O turismo é a sua atividade econômica principal e nos últimos oito anos houve um crescimento desordenado da estrutura e uma falência dos serviços públicos, principalmente no que se refere ao fornecimento de água e de luz.



O governador Eduardo Campos convidou Romeu Neves Batista [foto], ex-diretor da Embratur, ex-chefe da Casa Civil do governo Carlos Wilson e ex-secretário de Turismo do Recife, para ser o administrador de Noronha. Pela primeira vez a gestão será realizada por um homem que conhece e entende a vocação turística do arquipélago e com um relacionamento nacional.
Para o governador atual, a ilha tem um significado sentimental. Foi lá que o seu avô, o então governador Miguel Arraes, ficou preso quando foi arrancado pela ditadura do Palácio de Campos das Princesas.
A busca de uma identidade
Falta ao produto turístico de Noronha uma identidade que tire o turista de uma viagem meramente contemplativa e das atrações do sol e mar. A ilha tem história e esta precisa ser resgatada. É lamentável o estado do seu patrimônio histórico. É como se o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) não existisse. O edifício da cadeia pública já perdeu um pedaço considerável do teto e sofreu invasão de sem-tetos. O Forte da Vila dos Remédios está em condição precária, isso sem contar o próprio memorial da ilha, que está completamente deteriorado. Até o painel onde estava o retrato do governador Miguel Arraes foi rabiscado, para apagar a imagem do ex-dirigente.
Falta para o produto turístico alguns elementos básicos, como a escolha e valorização de um prato típico. Os primeiros moradores, antes da existência da geladeira, utilizavam um peixe salgado (e a salga era realizada durante dias no sol em um verdadeiro ritual) que serviam com fruta-pão frito. Em nenhum restaurante é possível degustar este prato que é batizado de "Peixe escalado".
A população noronhense é formada por descendentes de três diferentes grupos: ex-prisioneiros, militares e servidores públicos. A administração está realizando um senso para saber o número exato de residentes, que hoje não deve superar quatro mil pessoas. O surgimento de equipamentos de luxo, como a Pousada Maravilha, está obrigando a importação de uma mão-de-obra especializada. São 50 funcionários para oito suítes. A pousada do Zé Maria é outra de luxo e muito conceituada pela gastronomia. Nas duas, os preços dos restaurantes são módicos. As pousadas familiares, são 104 oficiais, oferecem uma média de 5 a 8 apartamentos e entre elas a Água Viva e Mar Aberto são destaques. Pertencem a moradores e possuem decoração temática que contou com o apoio do Senac em sua implantação.
Para o presidente da Associação de Pousadas Familiares, João Maria Mello – proprietário da Pousada Tio João, "o público não tem uma idéia real da evolução das pousadas noronhenses. Elas têm base nos fundamentos da hotelaria e os nossos investimentos são constantes." O que precisa ser resolvido é a questão relacionada ao abastecimento de água potável, o dessalinizador da ilha só produz 40 mil litros por hora, o que obriga a um eterno racionamento. A máquina só não produz mais porque é obrigada a funcionar fora dos horários de pico do consumo de energia da ilha.
Para o administrador da ilha, Romeu Batista, os primeiros 90 dias da sua gestão estão sendo para levantar os problemas e principalmente para buscar uma solução que tenha sempre o turismo como prioridade. "Sou um homem que nasceu e viveu trabalhando com o turismo, administrar Noronha é um desafio", afirma Romeu, que ressalta a segurança da ilha como o principal atrativo. "Aqui os banqueiros podem circular sem segurança e até artistas internacionais são tratados como pessoa comum. Em que lugar do mundo é possível vivenciar este tipo de sensação? Devemos é investir no turismo de qualidade e qualificado, esta é a vocação natural da ilha", conclui o administrador, que no início de maio trouxe o presidente da CVC para uma visita de algumas horas e acertou parcerias com a maior operadora do País.
Atitude criminosa do Ibama
No resgate da história da ilha está a sua importância estratégica durante a Segunda Guerra Mundial e durante a Guerra Fria. A ilha foi base da Força Aérea Norte-Americana e, ao lado de Natal/RN, formava o famoso "Trampolim para a Vitória". No final dos anos 1950 o Governo JK autorizou a instalação de uma base para rastreamento de mísseis. O órgão ambiental que é voltado a preservação da natureza demonstra não dar a mínima para preservar a história. É exatamente esta presença americana de 50 anos atrás que esta sendo riscada do mapa pelo Ibama. Os "iglus" que faziam parte da base americana e que se transformaram no primeiro hotel da ilha estão se deteriorando e dois deles foram irresponsavelmente demolidos para dar lugar à base do Projeto Tamar. Eles poderiam ser reformados, receber as cores e padrões originais da base norte-americana e virar um museu sobre a presença deles na ilha e a importância que Noronha teve na Segunda Guerra Mundial.
Os prédios remanescentes da base são uma raridade e deveriam ser tombados imediatamente, principalmente quando se sabe que parte deles estão sendo cedidos para moradia de pessoas sem nenhuma vinculação com o Ibama.
Cláudio Magnavita / JT
Fotos:1- Jornalistas da Abrajet em Fernando de Noronha2- Romeu Neves Batista3- João Melo e Max4 - Ibama destruindo traços da presença americana na Ilha