sábado

Dois terços dos navios são operados diretamente por companhias estrangeiras

Está tomando corpo a mobilização da hotelaria para combater a concorrência predatória dos navios estrangeiros que realizam cabotagem no litoral brasileiro durante a alta estação, afetando todos os meios de hospedagem nacionais. Depois de diversos editoriais do Jornal de Turismo sobre o tema, que resultou até em um embate com a Abremar, já está ficando bem mais claro para a classe política e aos formadores de opinião, a gritante diferença entre cruzeiros marítimos internacionais, aqueles que trazem turistas estrangeiros e que são benéficos para o país, e a cabotagem de navios estrangeiros que aportam aqui na nossa alta estação, que só este ano deverá desviar quase 300 mil passageiros do turismo doméstico.
Isso mesmo, do turismo doméstico, já que quando um brasileiro sobe a bordo de um desses navios está pagando tudo em dólar e este dinheiro é remetido ao exterior.
Ao se colocar a luz neste negócio, descobre-se cada vez mais argumentos que demonstram o efeito nocivo desta atividade para o país, não apenas na evasão de divisas, como também no bombardeamento da saúde da nossa hotelaria.
Dos quinze navios que estarão aportando no litoral brasileiro, só cinco serão fretados por uma empresa brasileira e terão a sua operação dentro de um investimento de capital nacional, operando dentro de critérios de nacionalização que incluem até o risco da operação. Nestes cinco casos, cabe ao fretante brasileiro, no caso a CVC, toda a operação, e as vantagens para o passageiro incluem até o serviço de all inclusive, ou seja, o open bar e todos os consumos a bordo. A legislação trabalhista é plenamente obedecida e o índice de nacionalização dos shows, programações artísticas, diretor de cruzeiros e staff é total. O navio está sob a regência do fretante e se houver lucro na operação o dinheiro fica no Brasil. É muito semelhante com o fretamento de aeronaves comerciais.
Já dois terços da frota estarão sob responsabilidade dos próprios armadores, que descobriram o paraíso no Brasil para colocar os seus barcos quando o hemisfério norte está sob um rigoroso inverno e os navios ficavam sub-utilizados. São barcos que oferecem planilhas que desafiam a lógica. Cobram aparentemente superbarato pela cabine e chegam a oferecer de graça a terceira pessoa e, quando o passageiro está a bordo, este tem que pagar U$ 3,5 por uma garrafa de água mineral. Nestes casos a receita de extras sempre é altíssima e tudo é pago em dólar ou no cartão internacional, como se estivesse no exterior.
A redução das vagas para brasileiros está chegando à área do entretenimento. A Ordem dos Músicos e o Sindicato dos Artistas devem ficar de olho para o crescente número de estrangeiros que são contratados para se apresentar a bordo. Quando o navio zarpa, no mesmo momento que abrem as portas dos cassinos a bordo e os estrangeiros começam a se apresentar, teoricamente estão em águas internacionais e não ficam sujeitos às leis brasileiras.
Finalmente o assunto começa a ganhar espaço em outros veículos da imprensa especializada, que apostam em medidas salomônicas. Acabam na realidade se distanciando do elemento básico do jornalismo, que é o fato e o registro da realidade. Nesta temporada não serão 15 navios? Dez deles não estarão sob operação 100% estrangeira? Não há evasão de divisas? A hotelaria brasileira não está sentindo na carne o efeito dessa concorrência predatória? Desses navios não são apenas cinco que estão sob contrato de fretamento?
A idéia de estabelecer uma centralização do debate no Ministério do Turismo é oportuna, todos os lados já aceitaram um debate, principalmente quando ele se torna inevitável. Dirigentes oficias do turismo já concordam com a tese da reserva de uma cota de cabines para ser vendida a não residentes, obrigando as companhias estrangeiras a usarem sua força de venda no exterior para atrair turistas estrangeiros.
O que a hotelaria defende é legítimo. Será inevitável que o tema migre para uma esfera de decisão maior, principalmente porque a janela que será aberta com a chegada dos 15 navios dará uma visibilidade ao assunto na própria mídia e os portos se transformarão em um excelente palco para manifestações e panfletagens.
Cabe à mídia especializada, que, por ser especializada, tem um importante papel nesta questão, informar corretamente. Principalmente quando o pivô da questão é a desinformação. O Jornal de Turismo sabe que seu papel é o de colocar o foco sobre os fatos e não podemos concordar com a tese de que a hotelaria deveria assistir calada a migração de seus hóspedes para concorrentes estrangeiros que promovem evasão de divisas. Faz parte do mundo moderno e democrático o direito de reclamar, principalmente quando o cenário armado prejudica o país e as empresas brasileiras.

“Jogo no time do turismo”ENTREVISTA


As últimas declarações da ministra do Turismo, Marta Suplicy, que ganharam grande repercussão são provas irrefutáveis de que a imprensa peca ao tentar cristalizar uma frase, isolando-a de um contexto mais abrangente. Ou seja, em nome de interesses políticos, ofuscou-se a grandiosidade do trabalho do Ministério do Turismo junto ao trade e, principalmente, ao povo brasileiro.

O Plano Nacional de Turismo (PNT) está dando continuidade à gestão anterior de Walfrido dos Mares Guia e aponta para um futuro de desenvolvimento econômico no País, através do turismo. Nesta entrevista ao jornalista Cláudio Magnavita, Marta disse ao que veio, como ministra, estrategista, ex-prefeita de São Paulo e mulher.

Cláudio Magnavita - Ministra, a sua gestão tem recebido o apoio das principais entidades representativas do setor turístico brasileiro. Como foi descobrir esse mundo mágico do turismo? Como tem sido sua experiência como ministra?

Marta Suplicy - O apoio de todo o trade turístico ao PNT foi uma descoberta. Revelou a força que o turismo tem - apesar de não termos a mesma pujança de outros países. Afinal, já competimos com a indústria automobilística.

CM - O lançamento do PNT contou com oito governadores de Estado, de deputados, senadores e do próprio presidente da República. Isso é um grande ato, para uma atividade que até então era praticamente desconhecida do grande público...

MS - Aos poucos, tenho percebido que o turismo é a área que mais gera emprego rapidamente. E isso vai desde as pessoas mais qualificadas até as mais humildes. Para o jovem, por exemplo, há muito campo, e com mobilidade social: ele começa a trabalhar num restaurante e, depois de 20 anos atuando nesse segmento, pode, qualificado, abrir um empreendimento próprio. A idéia do Plano Nacional de Turismo 2007-2010 é a da inclusão social. Por isso chamamos de uma “Viagem de inclusão”. Há 40 meses consecutivos o consumo aumenta no Brasil. Temos hoje uma venda espetacular de celulares. Três milhões de pessoas já tem o aparelho. Isso tudo sem contar o aumento de brasileiros que estão comprando automóveis. Nosso povo está consumindo, sim. Quem nunca teve acesso a um avião está se locomovendo nele. Esse mercado é novo para o turismo: muitas dessas pessoas nunca pensaram que poderiam usufruir do turismo com a sua família; conhecer uma bela praia do Nordeste; Ouro Preto; Brasília; mergulhar em Bonito; conhecer a Chapada dos Veadeiros ou o Pantanal. É uma coisa que ainda não deslanchou, porque o pessoal está ainda partindo para os bens de consumo. Mas na hora que o brasileiro perceber que vamos ter pacotes de R$ 500 a R$ 600, com pagamentos mensais de R$50, é pé na estrada e no avião.

CM - O crédito consignado pode beneficiar o público da terceira idade, que é fundamental para o desenvolvimento do turismo?

MS - Estamos falando de um público que pode consumir um pouco mais. O estudante, a classe média e o aposentado são públicos potenciais. Começamos pelo aposentado, porque ele construiu este País. Deve ter mais direitos entre todos nós. Através do crédito consignado, a agência de viagem faz o pacote que não onera em nada para o cidadão: o dinheiro do crédito vai direto para a operadora. Conseguimos isso através de uma portaria rápida do ministro da Previdência, o (Luis) Marinho. Ou seja, o dinheiro sai direto do INSS para a conta da operadora. Então, não há problemas de não recebimento por parte da operadora. A Caixa Econômica e Banco do Brasil, com juros abaixo de 1%, também permitiram a baixa do valor do pacote. Agora, as agências estão todas muito envolvidas em fazer um negócio diferenciado para o aposentado de 60, 70 e 80 anos.

CM -As pessoas podem viajar inclusive nos períodos de baixa estação?

MS - Com o projeto, ajuda-se o aposentado a viajar em pacotes mais acessíveis. O hotel do empreendedor permanece em atividade, e cheio, durante todo o ano. Isso alguns países já fazem de forma mais contundente que nós. Na Espanha, por exemplo, há quatro meses de grande estação. Depois, quando os hotéis ficavam vazios, as pessoas eram despedidas porque não tinham como manter toda a estrutura. O governo espanhol fez a conta, no sentido de avaliar se era mais proveitoso pagar seguros-desemprego para essas pessoas ou avalizar pacotes subsidiados para que o povo pudesse viajar em época de baixa estação, e manter os empregos. Eles resolveram que era mais barato. No Brasil, acreditamos no crédito consignado para aposentados na baixa estação, de sete a oito dias, em roteiros rodoviários ou aéreos - baratos ou um pouco mais caros, (respectivamente). Isso gerará um impacto muito bom para a economia. Num outro dia você me perguntou “onde começa essa história com os aposentados”? O Ministério quer participar da capacitação e do treinamento junto às agências, que também estarão recebendo pessoas que nunca entraram lá, e que podem ficar desconfiadas por serem agências muito elegantes. Mas é para entrar mesmo, porque ali estarão profissionais treinados que os atenderão com todo o carinho e respeito, mostrando os melhores pacotes para o idoso. Para treinar e organizar os pacotes, começamos com o Estado de São Paulo, que mais envia viajantes no Brasil e tem o maior número de aposentados. Brasília será o nosso segundo foco porque queremos que a região Centro-Oeste se torne um centro de viagens, que o Brasil se expanda também naquela direção. Todos irão viajar, prioritariamente, para o Nordeste: lugar onde mais se precisa de renda e emprego. Distribuição de renda, diminuição de desigualdades regionais e empregabilidade são as principais orientações do presidente Lula para o turismo - principalmente para o Nordeste. Estive em Cabrália e Porto Seguro – no evento da tocha olímpica dos Jogos Pan-Americanos -, e o pessoal estava preocupado com a baixa freqüência. Isso é muito ruim para um lugar tão bonito, em que o idoso poderia ir. É um privilégio desfrutar daquela praia agradável e da nossa gastronomia. Isso tudo agora será mais acessível.

CM - Gostaria de falar da responsabilidade de estar num ministério criado por iniciativa pessoal do presidente Lula, e de a senhora ter sucedido o Walfrido dos Mares Guia. O sucesso de uma gestão está na equipe, parcialmente preservada, somada ao que a senhora trouxe de novos talentos para o Ministério?

MS - O ministro Walfrido foi uma sorte. Entrou num Ministério novo, chamando, com muita sensibilidade, as pessoas que trabalhavam na área. Foi através dos secretários de turismo dos governos, dos municípios e de todo trade, que se criou o Conselho Nacional de Turismo (CNT), com mais de 60 cadeiras representativas: todos pensando num plano para 2003-2007. Esse plano resultou num planejamento de marketing muito importante para o turismo. Agora, que estou entrando nesse setor, vejo como os países que têm o turismo desenvolvido trabalham. Eles não brincam em serviço: gastam fortunas em marketing. Dubai, que há quatro anos recebia menos de dois milhões de visitantes, hoje passou o Brasil. Tem uma propaganda gigantesca, linhas aéreas. O retorno do investimento em turismo é muito lucrativo e fabuloso. É uma atividade muito rápida: se o Produto Interno Bruto cresce a 3%, o turismo vai a 5, 6%. Se tem 4%, o turismo chega a 7, 8%. É uma área que requer investimento. Essa pesquisa encomendada pelo Mares Guia, possibilitando criar um novo Plano para 2007-2010, tornará o Ministério ainda mais profissional. Não temos 'achômetro', mas, sim, pesquisas. Por exemplo, no exterior, temos o Plano Aquarela, que revela os países em que mais devemos investir em propaganda. Argentinos, americanos, portugueses, italianos e alemães são os que mais visitam o Brasil. Vamos investir nosso plano de marketing na Argentina, nos Estados Unidos, em Portugal (com menos força) – já que de lá vêm 400 mil turistas. Temos um teto. Vamos manter nossas relações: agora, a TAP está realizando cinco vôos novos entre Lisboa e Brasília. Cinco para o Galeão, e outros três para São Paulo – totalizando quase 60 vôos de freqüência. É um ótimo mercado. Vamos agora para os ingleses e alemães, onde nunca investimos.

CM - A então prefeita de São Paulo, que introduziu o Eduardo Sanovicz na administração do Anhembi Eventos, agora o vê, com seu trabalho refletido em âmbito nacional, no Ministério. Conte-me um pouco dessa história.

MS - O Eduardo Sanovicz foi muito bom para o Anhembi. Colocou-o de pé, reformou-o em grande parte, e o fez sair do vermelho, gerando lucro. Ele foi convidado pelo Mares Guia para assumir a Embratur. Reorganizou toda a empresa de uma forma muito experiente. A Jeanine (Pires, atual presidente da Embratur) é um dos tesouros que ficaram. Tem muita experiência, é jovem e dinâmica. Fiquei contente de o Mares Guia não a ter levado, já que ela é de turismo, e ficou no Ministério. Nossa atual equipe não pode se esquecer do mercado interno. Se temos cinco milhões de pessoas que vêm visitar o Brasil - queremos aumentar -, temos também 50 milhões de brasileiros que viajam por aqui. Essa é a força da hotelaria e do turismo interno, que gera empregos e divisas. Isso atrai também pessoas de fora, que podem usufruir de uma rede hoteleira consolidada.

CM - O Márcio Favilla, que era o secretário Executivo do Ministério, pediu para lhe falar sobre a Secretaria Executiva e a própria estrutura do Ministério. Ele teve uma conversa de quase três horas com a senhora, e saiu do seu gabinete encantado com a sensação de que o trabalho teria continuidade. Essa é uma marca da Marta Suplicy, da época em que era apresentadora de TV - de não pré-conceitualizar, antes de tomar uma decisão correta?

MS - Temos de ter a humildade de saber que estamos entrando numa área que não entendemos. O Mares Guia escolheu as pessoas mais indicadas: o Sanovicz, que estava no Anhembi, o (Milton) Zuanazzi, que também é um homem do turismo. Chamou todo o trade e disse: “vamos trabalhar juntos”. Eu também chamei as pessoas corretas para conversar. O próprio ex-ministro também me pôs muito a par dos acontecimentos. A partir disso, você começa a ler, estudar e ouvir mais atentamente. Como ex-prefeita de São Paulo, tive a sensação de como o turismo teve um impacto. Tivemos aqui a Octad, maior evento da ONU. Foi difícil conseguir: a ONU tem exigências de segurança e espaço para realizar o seu evento, que são o “top do top”. Conseguir trazer esse tipo de evento para São Paulo e realizá-lo de forma exitosa foi importante para nós.

CM - É interessante o apartidarismo do setor turístico. A senhora esteve agora há pouco reunida com o prefeito de SP, o Gilberto Kassab...

MS -
Como ministra, não tenho problemas com os organismos que tenho de trabalhar. A cidade de São Paulo tem mais números de eventos e recebe e emite mais turistas no Brasil. Na área de lazer, o Rio é mais significativo. Mas, se somarmos lazer e bussines em SP, essa cidade realmente 'chama' mais visitantes. A prefeitura é o coração disso tudo. Propomos a ele transformar o Campo de Marte num novo Anhembi, em comparação à Feira de Milão. Vamos investir no Anhembi também. Ele ficou encantado com a idéia de uma rodoviária na Zona Leste. O turismo que essa região tem simpatia é o de um dia, como o de visitações à Aparecida do Norte, por exemplo.

CM - A cidade de São Paulo é metropolitana. Tem uma dimensão geográfica estrondosa. Só que a política pau-istana se manifesta de maneira muito pequena. O que falta para mudar a cabeça dessas pessoas, no sentido de se pensar a cidade como ela realmente merece?

MS - As pessoas que moram em São Paulo têm consciência da importância da cidade. Quem está aqui pensa sempre a partir de uma perspectiva de metrópole cosmopolita. Nada aqui é pequeno. Conseguimos exercer impacto quando fizemos um bilhete único ou um CEU. Governar São Paulo é um desafio gigantesco. Voltar para cá é uma emoção boa. Agora o palácio do Anhangabaú é um orgulho. Vieram um pouco as lembranças difíceis de se lembrar: as decisões difíceis da prefeitura.

CM - Gostaria de mergulhar agora na sua experiência de mãe, mulher, gestora, no momento em que o turismo está sob gestão feminina no Senado, na Câmara, na Embratur, no Ministério e agora, que a Organização Mundial do Turismo terá a mulher no centro do debate de sua reunião.

MS - É uma coincidência feliz. O século 21 é o das mulheres. Podemos ter uma presidente na Argentina. No Chile, temos a Michele Bachellet. A Angela Merkel está fazendo um trabalho extraordinário na Alemanha. As mulheres aos poucos estão chegando lá. O Brasil é um país com muitos paradoxos nesse sentido, e eu estou feliz com o Ministério do Turismo.

CM - O seu nome poderia ser o escolhido para comandar o Brasil?

MS- Ainda é muito cedo para falar sobre isso e e eu estou feliz com o Ministério do Turismo.

CM - Recentemente, a imprensa congelou uma frase da senhora, utilizando-se politicamente de um tema, ofuscando o teor do próprio PNT. As entidades do setor se solidarizaram, pedindo que os jornais voltassem seus holofotes para o Plano. Como a senhora avalia esse episódio?

MS - A frase foi no sentido de que as pessoas não desistissem de viajar. É realmente como um parto: todos sofrem no aeroporto, mas depois tem a alegria imensa de viajar. Infelizmente a frase se transformou em tudo o que não quis dizer. Fiquei triste porque foi um dia de muita importância para o Ministério do Turismo. Mas o Plano para 2007-2010 acabou sendo pouco falado. É uma “Viagem de Inclusão”, para criar mais de 1 milhão e 700 mil empregos, com metas de divisas para o Brasil. Serão 65 regiões a serem consideradas como modelos de nosso desenvolvimento turístico. Temos muito mais que 65 - mas não temos recursos para investir em mais que isso, num primeiro momento. Depois, vêm os planos de agregar os estudantes, o trabalhador e o aposentado, para que possam conhecer o Brasil. O estudante só vê o País pelos livros ou pela TV. O presidente falou que Villa-Lobos ganhou de seu pai uma biblioteca grandiosa, mas ele preferiu vendê-la para percorrer o Brasil. Estendeu a viagem, influenciando enormemente a sua vida e composição musical. O estudante que viaja tem a janela aberta para o mundo. É um vivenciamento que muda a cabeça das pessoas.

CM - Alguns jornais foram refratários a uma agenda positiva. O trade se mobilizou para divulgar seu apoio a senhora, através de um comunicado público. O que a senhora sentiu ao perceber essa manifestação pública de apoio, em diferentes entidades do turismo?

MS - Senti que sou do mesmo time. Foi uma união, com uma solidariedade muito grande, de pessoas que estão na mesma equipe, dispostas a fazer com que o Ministério do Turismo cresça junto com o Brasil, levando o nome do nosso País a um patamar tão belo quanto sua beleza.
Cláudio Magnavita / JT

segunda-feira

Trade se mobiliza em apoio à ministra

As entidades de classe se mobilizaram 24 horas depois do lançamento do Plano Nacional de Turismo para dar apoio público à ministra Marta Suplicy. A mídia preferiu cristalizar um momento infeliz da entrevista, congelando alguns segundos de uma declaração que foi imediatamente seguida por um pedido formal de desculpas, do que abordar o teor do lançamento, que foi, sem dúvida, um dos eventos mais importantes do turismo politicamente.
Primeiro, foi a escolha da solenidade, ocorrida durante uma sessão do Conselho Nacional de turismo, fazendo parte da agenda original. Segundo, a presença do próprio presidente da República, de seis ministros, do presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (em um dia de votação delicada) e das presidentes das Comissões de Turismo da própria Câmara, Lídice da Mata, e do Senado, Lúcia Vânia.
A reação dos dirigentes do trade de virar a página e fazer colocar o foco no que realmente interessa, o Plano Nacional de Turismo - que na sua segunda edição foi arduamente trabalhado no próprio Conselho de Turismo - foi madura, corajosa, altiva e demonstrou que a própria ministra, que é recém-chegada no setor, já ganhou a admiração e o respeito de todos, principalmente pela sua acertada decisão de seguir os princípios do plano de trabalho do seu antecessor, Walfrido dos Mares Guia, e de aprimorar as rotinas.
O Plano atual cobre uma lacuna histórica, a falta de um planejamento estratégico que pense o setor a médio e longo prazos. O que está escrito é o que deve ser seguido nos próximos anos. A sua leitura é uma missão obrigatória para todos aqueles que trabalham e dependem do setor. Muito mais do que um conjunto de metas é um conjunto de ações bem definidas e capazes de gerar 1,7 milhão de novos empregos. Só de divisas deverá proporcionar o ingresso de 7,7 bilhões de dólares; ao contrário do que muitos querem fazer acreditar. A missão principal do turismo interno é promover o ingresso de riquezas e não a sua evasão.
Perante o trade, a ministra sai fortalecida. O episódio e o embate com a imprensa serviram para consolidar e estreitar uma relação de confiança. O apoio que lhe foi hipotecado foi fruto de uma avaliação de seus primeiros meses no cargo, do perfil da equipe que montou e de uma atuação transparente. O Ministério não está sendo pensado a curto prazo, como muitos chegaram a pensar, mas de uma forma mais ampla, pelo menos até o fim do atual Governo.
O presidente Lula sempre se sentiu em casa nos eventos do turismo. Sempre teve pronunciamentos marcados pela descontração, foi assim nas duas Feiras da Abav e nos Salões do Turismo, só que desta vez o cenário foi Brasília e os algozes de plantão estavam a postos para cumprir uma pauta negativista. Foi neste cenário que o presidente se descontraiu e do fundo da alma arrancou o registro de como a imprensa brasileira vive uma fase de notícias negativas em excesso. O troco lhe foi dado em manchetes pejorativas e reclamando do excesso de informalidade. Por descontração, a ministra Marta foi infeliz numa frase que, congelada, suplantou em repercussão para a sociedade civil o próprio teor do documento que estava sendo lançado. Nem o pedido de desculpas amenizou a ira e a sede de sangue. A critica do presidente à própria imprensa, realizada minutos antes, só aguçou o apetite e o que se viu é o desdobramento de um quadro de múltiplos interesses político-partidários. A decisão do trade e das principais entidades de pedir que esta página fosse virada é sensata. Demonstra união, mobilização e maturidade. Um setor que não se acovarda e sai em defesa daqueles que ganharam o seu respeito. Leia na integra a nota distribuída à imprensa pelas principais entidades do turismo:
Como membros do Conselho Nacional de Turismo, por meio desta manifestação pública, queremos reafirmar o nosso respeito e consideração pela Ministra de Estado do Turismo Marta Suplicy. Ela assumiu em março passado o cargo, que havia sido exercido com muita dedicação e sucesso pelo seu antecessor Ministro Walfrido dos Mares Guia. Na solenidade de posse, a Sra Ministra assinalou que daria continuidade aos programas e ações em desenvolvimento do setor e que buscaria o aperfeiçoamento do trabalho. Ela tem cumprido. Em pouco tempo conseguiu apresentar, discutir e aprovar junto à cadeia produtiva do turismo, a segunda edição do Plano Nacional de Turismo – PNT, que começou a ser elaborado ao término da gestão Mares Guia. Um trabalho, portanto, referendado por todos nós.
Queremos aqui, retomar a importância do PNT, um conjunto de metas e objetivos, que foram exaustivamente debatidos durante vários meses e que teve a participação de 100% de todo o nosso Conselho, um trabalho que ensejará, até 2010, 1,7 milhão de novos empregos, a geração de 7,7 bilhões de dólares de divisas e conseqüentemente enormes benefícios ao país.
Esperamos que o resgate destas informações e da dimensão do Plano Nacional de Turismo possam ser compreendidos em sua plenitude, até porque o seu lançamento contou com a presença do próprio Presidente da República, seis Ministros de Estado, oito Governadores, Parlamentares, Corpo Diplomático e da sociedade civil.
Brasília, 14 de junho de 2007
João Martins NetoPresidente da Abav - Associação Brasileira de Agências de Viagens
Norton Luiz LenhartPresidente da Federação Nacional de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares
João Luiz MoreiraFederação Brasileira de Convention e Visitors Bureaux
José Eduardo BarbosaPresidente da Braztoa – Associação Brasileira de Operadoras de Turismo
Paulo SolmucciPresidente da Abrasel- Associação Brasileira de Bares e Restaurante
Eraldo Alves da CruzPresidente da ABIH – Associação Brasileira da Industria de Hotéis
Cláudio Magnavita CastroPresidente da Abrajet – Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo
Apostole Lazaro ChryssafidisPresidente da Abetar - Associação Brasileira das Empresas de Transporte Aéreo Regional
Allain Baldacci Sindepat – Sindicato Nacional de Empresas de Parques e Atrações Turísticas
Dárcio BertoccoUbrafe - União Brasileira de Promotores de Feiras
Margareth Caron Sobrinho PizzattoAbraccef – Associação Brasileira de Centros de Convenções e Feiras
Alexandre ZubaranAssociação Brasileira de Resorts (Resorts Brasil)
Roberto DultraAssociação Brasileira de Turismo Receptivo Internacional – Bito
Sávio Neves FilhoPresidente da Abottc – Associação Brasileira das Operadoras de Trens Turísticos e Culturais

Temporada com número recorde de 15 navios deverá provocar efeitos nefastos à hotelaria

Os navios estão chegando... Durante o evento Cruise Day 2007, realizado em São Paulo, foram anunciados o desembarque de 15 navios para 2007/2008. O volume cresceu quase duas vezes e meia desde do início de 2004. A falta de estrutura dos portos brasileiros para este volume é tão assustadora, que os próprios armadores estão disputando a tapa as vagas para evitar um colapso operacional, principalmente no porto de Santos.
Em alguns casos, a situação é critica, como Búzios. Sem escalonamento, o colapso na cidade é absoluto. Como as datas de saída seguem um mesmo calendário (Natal, Réveillon, Carnaval etc) é impossível tirar a sincronicidade das saídas. Estamos à beira de um apagão portuário por completo despreparo operacional de cidades que seriam visitas, como é o caso de Vitoria, Ilhéus, Angra, Cabo Frio, Florianópolis, Salvador, só para falar das principais.
No ano passado foram 300 mil turistas e neste ano o volume será ainda maior. Na realização do Cruise Day ficou claro que tudo está correndo muito solto, sem uma regulamentação, sem um controle e uma organização central. Foi o que levou o presidente da Abremar, Eduardo Vampré do Nascimento a ser recebido, junto com Guilherme Paulus, da CVC, pelo Ministério do Turismo, quando foi tentando ressuscitar uma decreto que outorgava ao então Ministério do Turismo e dos Esportes a regulamentação do setor.
Ao se conhecer o gigantismo do setor, achar que não há impacto nesta operação no fluxo turístico nacional é tapar o sol com a peneira. São 15 navios de bandeira estrangeira, com as suas operações pagas em dólar, atuando exclusivamente na alta estação, que geraram, segundos dados da Abremar, na ultima alta estação apenas 1377 empregos a bordo. É o equivalente ao número de funcionários de três resorts de porte médio. Só o Complexo de Sauípe gera 3.100 empregos diretos. A média de funcionários brasileiros a bordo é de 130 pessoas por navio, ou seja, menos de 20% do empregos gerados que são todos ocupados por estrangeiros.
O setor mais atingido, os 40 resorts brasileiros, geram conjuntamente 16 mil empregos diretos, e isso não apenas na alta temporada como é o caso dos cruzeiros de cabotagem. Nos hotéis o emprego é durante todo o ano.
Enquanto existe uma visível proliferação desordenada dos cruzeiros de cabotagem no mercado brasileiro, as viagens dos cruzeiros internacionais, aqueles que trazem estrangeiros para o Brasil e que trazem divisas, são obstruídas por uma legislação estúpida e protecionista. Como a costa brasileira é muito grande, os transatlânticos estão impedidos de operar em mais de um porto no País, ou seja, não se pode atracar em Salvador e no Rio. Ligar duas cidades em uma só viagem o fazem cair na regulamentação de cabotagem. O Rio, que concentra as maiores paradas, recebeu no ano passado apenas 44 navios estrangeiros. O número poderia ser maior se houvesse uma multiplicidade de destinos no País.
Em todo o mundo, a regulamentação da cabotagem visa também proteger a indústria naval. Se o negócio é tão bom, está na hora de se criar mecanismo para que tenhamos os nossos próprios barcos. Um país que constrói avião a jato e que possui uma indústria naval instalada, capaz de produzir superpetroleiros, poderia fabricar navios de bandeira brasileira para operarem no nosso litoral. O grande problema é que os nossos navios estariam restritos ao mercado brasileiro, já que nenhuma outra nação que tenha a costa marítima que possuímos tem uma legislação tão liberal que permita a evasão de divisas e a concorrência com a base hoteleira instalada.
Colocar o Ministério do Turismo como agente de regulamentação neste jogo, como sugeriu a própria Abremar é colocar uma luz neste fim de túnel. É colocar ordem na casa, estabelecer prioridades para uma operação sadia e que equilibre os efeitos nocivos deste crescimento desenfreado.
Se os próprios cruzeiros de cabotagem estão à beira de um colapso operacional pela falta de ordenamento dos portos e das escalas, imagine como está toda a hotelaria nacional sofrendo com essa concorrência predatória e sem nada semelhante no mundo.
Os reflexos nocivos são fruto de uma desordem absoluta, de uma proliferação de novos produtos, que além de não gerarem empregos e trazerem divisas, ainda enfraquecem a base hoteleira instalada à base de sacrifício e investimentos permanentes.
O assunto tem sido colocado de forma ordenada pelos líderes hoteleiros e ganhado atenção dos parlamentares contra esta farra que este ano colocará 15 navios estrangeiros no litoral brasileiro. É como se a Flórida fosse arrastada magicamente para o nosso litoral em toda alta estação e sugasse os nossos turistas e as nossas divisas. Uma concorrência predatória que pode ter na ação do Ministério do Turismo uma solução.

Campanha pela flexibilização dos vistos entra em processo de maturidade


Pela primeira vez assistimos o trade turístico, neste caso capitaneado pela ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), a decana entidade do turismo, como 71 anos de existência, elaborar uma mobilização correta em favor de uma causa que se coloca acima do bem e do mal. Trata-se da flexibilização dos vistos para turistas norte-americanos, australianos, canadenses e que permitirá um ingresso maior de divisas para o País.
O projeto, que nasceu de um estudo do hoteleiro carioca Pedro Fortes, ganhou corpo, virou projeto do deputado federal, Carlos Eduardo Cadoca e já foi aprovado pela rigorosa Comissão de Justiça da Câmara. Está pronta para ir para o Plenário.
O dia 31 de maio será histórico. Em um só dia, uma comissão de notáveis do nosso turismo, liderados por Eraldo Alves da Cruz e com a presença marcante de Álvaro Bezerra de Melo, foi recebida em audiência pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia, quando a defesa do projeto foi didaticamente realizada. O encontro, que deveria ser protocolar, transformou-se em uma reunião de trabalho com o próprio presidente do Congresso, orientando sobre os próximos passos que deverão ser dados, entre eles uma conversa com o líder do Governo na casa, o deputado José Mucio. Encerrada a reunião, que contou com expressiva presença parlamentar, dos mais diferentes partidos, o grupo marchou para o Gabinete do líder, onde foram recebidos e, novamente, o que seria um encontro protocolar se transformou em uma reunião de trabalho, deixando já agendado para o início de junho uma reunião do deputado Cadoca com todos os líderes para a apresentação sucinta do projeto.
A articulação do Itamaraty vem sofrendo um contraponto importante realizado pela própria ministra do Turismo, Marta Suplicy, que, em conversa com o chancelar Celso Amorim, já teve sinalizações positivas sobre a redução da oposição do corpo diplomático.
Tanto Chinaglia, quanto José Mucio, apontaram o caminho das pedras no convencimento parlamentar para que o projeto possa ir a votação no plenário. Será um trabalho árduo e que dependerá de uma mobilização ainda mais madura do trade turístico.
O empenho da ministra Marta será fundamental para eliminar os focos de oposição dentro do próprio PT, aliás, o maior deles. É como se o Governo estivesse totalmente contra a medida, quando, na realidade, dentro do próprio Palácio do Planalto, o ministro Mares Guia é totalmente favorável a políticas de flexibilização que permitam aumentar o fluxo de turistas. Na última semana, um congresso internacional com 2.500 participantes riscou o Brasil como sede. Só de vistos os organizadores teriam de arcar como mais de US$ 100 mil de despesas extras, só para atender os mil norte-americanos que participariam do evento.
Já na Comissão de Turismo da Câmara, o terceiro ponto de parada do grupo, a deputada Lídice da Mata se colocou totalmente favorável ao projeto e prometeu inclusive abrir um espaço na Comissão para que o assunto pudesse ser didaticamente explicado, já que o projeto tramita sem precisar ser submetido formalmente à Comissão.
O que se assiste é um feito memorável, só possível para quem conhece os meandros e os corredores de Brasília, como é o caso do hoteleiro Eraldo Alves da Cruz, que sempre viveu na Capital Federal. Quando assumiu a entidade, numa solenidade no Hotel Pestana em Salvador, durante o Fórum Mundial de Turismo, os hoteleiros não imaginavam o alcance do seu novo líder e do seu poder de fogo entre governantes e parlamentares.
Trata-se de uma mobilização constante e espera-se que no próximo dia 13 de junho, quando será lançado o Plano Nacional de Turismo 2007-2010, seja possível uma mobilização ainda maior e que os focos de oposição sejam extintos pelo argumento de geração de emprego e divisa, colocando o turismo brasileiro num patamar de competitividade nos maiores mercados emissores.

Regulamentar a cabotagem colocará um ponto final na concorrência predatória


O sentimento de mobilização dos hoteleiros com relação à atuação desenfreada dos navios no litoral brasileiro está crescendo. O manto do bom senso está levando muita gente a rever os seus conceitos sobre o efeito nocivo da cabotagem em águas nacionais.
Em uma recente reunião de uma regional da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), o proprietário de um veterano hotel quatro estrelas deu a seguinte explicação aos seus colegas: “imaginem se na alta estação a American Airlines e a United trouxessem os seus aviões para realizar vôos domésticos no Brasil, transportando só brasileiros e realizando uma concorrência predatória com os empresários brasileiros? É exatamente isso que as empresas que fazem cabotagem no litoral brasileiro exercem. São hotéis flutuantes que vem concorrer com a gente só na alta temporada, e depois vão embora...”.
Um dos erros em todas as matérias, inclusive do próprio JT, é se referir à cabotagem como cruzeiros marítimos. As viagens internacionais, ou melhor, os cruzeiros que passam pelo país trazendo estrangeiros, portanto, divisas, são bem vindos e esse tipo de viagem marítima acaba servindo de cortina protetora para a ação predatória exclusiva no mercado interno.
O trade deve incentivar a vinda de cruzeiros internacionais. O Brasil cresce nesse cenário, inclusive o Rio de Janeiro. O que não devemos ficar omissos é para os barcos que estacionam nas nossas águas, que transportam só brasileiros e depois partem carregados de reais e deixando a nossa hotelaria sem seus hóspedes.
O modelo de contrapartida que propomos é simples. Basta limitar a comercialização para obrigar que esses grandes operadores internacionais usem a sua força de venda no exterior e tragam turistas estrangeiros. É só estabelecer uma cota para que 40% da ocupação seja reservada para passageiros não residentes no Brasil.
O atual quadro cambial será ainda mais cruel para a temporada que se aproxima. As viagens domésticas em navios, que são pagas em dólar, ficaram com preços menores, o que atrairá mais passageiros e deve tirar hóspedes que poderiam passar suas férias em resorts brasileiros.
Essa idéia acaba de ganhar um valioso aliado. Janick Daudet, presidente do Club Med na América do Sul e que sempre se manteve distante das associações de resorts, em recente entrevista à TV JB, confirmou o seu apoio à idéia de uma cota para não residentes. “O turismo brasileiro poderia ganhar muito, já que essas companhias internacionais possuem uma força de venda muito forte no exterior e poderiam trazer estrangeiros para ocupar parte das suas viagens no Brasil. Todos nós estamos sentindo o efeito desta concorrência que ocorre em cada alta temporada”, afirmou Daudet. Ele sabe o que fala: no passado, foi diretor de cruzeiros do próprio Club Med, do qual faz parte do board internacional.
Regular a cabotagem desses barcos internacionais em águas brasileiras, estabelecer uma cota para não residentes e apertar a fiscalização trabalhista deverá ser a saída que o mercado vai buscar.
A defesa do turismo: uma missão que o JT leva muito a sério
Na edição passada abrimos espaço para reclamar do que ocorreu em Santa Catarina e que demonstrava um excesso na exposição de pessoas que acabavam sendo previamente condenadas por uma vergonhosa exposição pública. A manchete do Jornal de Turismo foi praticamente reeditada na última semana de maio, quando os maiores jornais brasileiros dedicaram as suas manchetes para o protesto nacional que tomou conta com uma nova operação da Polícia Federal.
Como veículo especializado, fomos os únicos a assumir uma corajosa posição em defesa de empresários do turismo, vitimados pelo circo de mídia armado. A dor dessas vítimas foi agravado pela omissão, não só de lideranças do trade, mas de todos aqueles que se dedicam ao jornalismo especializado.
A missão de um jornal não é apenas informar, mas também de formar. De formar opinião e fazer surgir um sentimento de indignação perante o errado, o vergonhoso, o que não é justo.
Ao ver a essência da nossa manifestação ser reproduzida nas manchetes de jornais nacionais que hoje questionam em conjunto os excessos da Polícia Federal e destas operações que já beiram o sensacionalismo, nos sentimos mais confiantes para seguirmos em frente na nossa missão. Foi assim na defesa da Varig. Por muitas vezes nos sentimos sozinhos. A omissão da mídia no caso da maior companhia aérea do País foi patético.
A mesma solidão ocorreu em Santa Catarina. A ampulheta do tempo sempre nos ajuda a provar que estávamos certos. O pecado da omissão nunca poderá se manifestar quando se pratica um jornalismo com dignidade, com verdade e que se traduz numa missão, onde os elementos de covardia não se manifestam.

O exemplo de Luiz Henrique


Dentro de todo o trauma por que passou o trade turístico de Santa Catarina com a ação da Polícia Federal, que, como se apurou, levou de forma injusta os mais importantes nomes do setor ao pelourinho público, um único fato positivo surgiu no final deste tenebroso túnel. Trata-se da postura corajosa do governador do Estado, Luiz Henrique da Silveira, que demonstrou toda a sua coragem e fibra ao se contrapor ao excesso cometido contra Fernando Marcondes, empresário e presidente do Costão do Santinho e Marcílio Ávilla, presidente da Santur (Empresa de Turismo de Santa Catarina) e vereador de Florianópolis.
No caso do Marcondes, o governador abriu o Palácio e recebeu o empresário para um jantar. Avalizou publicamente a sua lisura e atuação empresarial à frente de um empreendimento que mudou a história do turismo catarinense. Ao fazer isso, o governador foi o porta-voz de uma sociedade que estava indignada em ver um dos homens mais sérios do setor empresarial catarinense e o maior empregador da ilha de Florianópolis incluído injustamente em uma operação policial que teve como foco principal outros envolvidos.
A decisão de Luiz Henrique, de receber para um jantar de desagravo o casal Iolanda e Fernando Marcondes, chegou a ser duramente criticada em manchete condenatória do jornal "Folha de São Paulo", que, tendenciosamente, proclamava o ato como estarrecedor, como se o empresário fosse um criminoso. Em nenhum momento o jornal paulistano se debruçou sobre o fato para entender que a pessoa recebida pelo governador não era um bandido, mas sim uma vitima de truculência jurídica que o privou da liberdade por 36 horas e o submeteu ao canibalismo de uma imprensa voraz e incapaz de reparar, com igual veemência, os erros de suas manchetes.
A mesma atitude digna e corajosa teve o governador Luiz Henrique com o seu auxiliar Marcílio Ávilla, atual presidente da Santur e um dos novos valores da política de Santa Catarina. Vereador de Florianópolis por dois mandatos e presidente da Câmara por um, onde realizou um trabalho moralizante que o credenciou para a reeleição, Ávilla também teve o seu nome incluído injustamente no processo e chegou a ter a sua prisão provisória decretada. Se não estivesse no exterior em missão oficial, ele teria passado pelo vexame de ser preso e algemado equivocadamente. Regressando ao país, ele foi depor e, já que não havia nada que justificasse a sua inclusão no processo, foi liberado imediatamente. Ele foi recebido pelo governador e não apenas foi mantido no cargo como Luiz Henrique fez questão de reafirmar publicamente a sua confiança em Ávilla e na sua inocência no processo.
É notável o trabalho que ele vem desenvolvendo à frente do turismo catarinense. Em cinco meses na presidência da Santur, promoveu uma valorização do órgão e do pessoal da casa, ampliou um diálogo com o trade e trouxe uma transparência nunca vista anteriormente. Cada ação da empresa é rigorosamente prestada conta para todos os dirigentes do turismo catarinense. Interromper este trabalho de promoção do Estado é que seria um crime.
São nessas horas de fogo, onde as pessoas se acovardam e se escondem em um pré-julgamento doentio de se considerar o outro como culpado até que se prove a inocência, subvertendo um milenar princípio do direito, é que se tem a oportunidade de conhecer o caráter do governante e dos homens públicos. O caso do governador Luiz Henrique é exemplar, fruto de uma coerência política que o levou a se afastar do Governo para enfrentar uma reeleição. Fruto de um passado de luta e aguerrimento. Ao lembrar da sua própria prisão na época da ditadura e do drama que sua família enfrentou, Luiz Henrique virou um leão. É um exemplo para outros governantes e um contraponto importante para estabelecer um limite que ajude a preservar o estado de direto. Atitudes que o credenciam para vôos mais altos em um cenário republicano tão pobre de homens da sua têmpera.
A grande vítima seria na verdade o próprio Estado de Santa Catarina, que sem a reação altiva do seu Governador passaria ao mundo que os investidores estavam órfãos, que os empreendedores corriam riscos. Mesmo assim, a primeira reação do empresariado nacional foi de susto. Investidores internacionais já não pensam mais em empreender em equipamentos turísticos de Florianópolis. O trabalho do Governo será de reconstrução desta credibilidade. O governador já deu o primeiro passo. E um belíssimo passo, que merece ser aplaudido em pé

Noronha procura as suas raízes para crescer como destino turísticoMAGNAVITA



A visita da executiva nacional da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo (Abrajet) a Fernando de Noronha será um marco na história do turismo local. Pela primeira vez uma entidade do trade leva os seus dirigentes nacionais ao arquipélago e pela primeira vez há uma interação profunda entre os moradores locais e os profissionais da imprensa especializada em turismo. Tudo isso ocorreu por um fator que facilitou este diálogo: o comando da ilha estar na mão de um profissional do setor e os empresários locais estarem organizados em uma associação. Transportados pela Gol/Varig, 42 jornalistas visitaram a ilha e tiveram a oportunidade de conhecer as pousadas-familiares, na verdade, meios de hospedagem que já beiram a sofisticação e contrapõem o aspecto de improvisação.

O mais importante é que a ilha passa por um processo de profunda reavaliação. O turismo é a sua atividade econômica principal e nos últimos oito anos houve um crescimento desordenado da estrutura e uma falência dos serviços públicos, principalmente no que se refere ao fornecimento de água e de luz.



O governador Eduardo Campos convidou Romeu Neves Batista [foto], ex-diretor da Embratur, ex-chefe da Casa Civil do governo Carlos Wilson e ex-secretário de Turismo do Recife, para ser o administrador de Noronha. Pela primeira vez a gestão será realizada por um homem que conhece e entende a vocação turística do arquipélago e com um relacionamento nacional.
Para o governador atual, a ilha tem um significado sentimental. Foi lá que o seu avô, o então governador Miguel Arraes, ficou preso quando foi arrancado pela ditadura do Palácio de Campos das Princesas.
A busca de uma identidade
Falta ao produto turístico de Noronha uma identidade que tire o turista de uma viagem meramente contemplativa e das atrações do sol e mar. A ilha tem história e esta precisa ser resgatada. É lamentável o estado do seu patrimônio histórico. É como se o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) não existisse. O edifício da cadeia pública já perdeu um pedaço considerável do teto e sofreu invasão de sem-tetos. O Forte da Vila dos Remédios está em condição precária, isso sem contar o próprio memorial da ilha, que está completamente deteriorado. Até o painel onde estava o retrato do governador Miguel Arraes foi rabiscado, para apagar a imagem do ex-dirigente.
Falta para o produto turístico alguns elementos básicos, como a escolha e valorização de um prato típico. Os primeiros moradores, antes da existência da geladeira, utilizavam um peixe salgado (e a salga era realizada durante dias no sol em um verdadeiro ritual) que serviam com fruta-pão frito. Em nenhum restaurante é possível degustar este prato que é batizado de "Peixe escalado".
A população noronhense é formada por descendentes de três diferentes grupos: ex-prisioneiros, militares e servidores públicos. A administração está realizando um senso para saber o número exato de residentes, que hoje não deve superar quatro mil pessoas. O surgimento de equipamentos de luxo, como a Pousada Maravilha, está obrigando a importação de uma mão-de-obra especializada. São 50 funcionários para oito suítes. A pousada do Zé Maria é outra de luxo e muito conceituada pela gastronomia. Nas duas, os preços dos restaurantes são módicos. As pousadas familiares, são 104 oficiais, oferecem uma média de 5 a 8 apartamentos e entre elas a Água Viva e Mar Aberto são destaques. Pertencem a moradores e possuem decoração temática que contou com o apoio do Senac em sua implantação.
Para o presidente da Associação de Pousadas Familiares, João Maria Mello – proprietário da Pousada Tio João, "o público não tem uma idéia real da evolução das pousadas noronhenses. Elas têm base nos fundamentos da hotelaria e os nossos investimentos são constantes." O que precisa ser resolvido é a questão relacionada ao abastecimento de água potável, o dessalinizador da ilha só produz 40 mil litros por hora, o que obriga a um eterno racionamento. A máquina só não produz mais porque é obrigada a funcionar fora dos horários de pico do consumo de energia da ilha.
Para o administrador da ilha, Romeu Batista, os primeiros 90 dias da sua gestão estão sendo para levantar os problemas e principalmente para buscar uma solução que tenha sempre o turismo como prioridade. "Sou um homem que nasceu e viveu trabalhando com o turismo, administrar Noronha é um desafio", afirma Romeu, que ressalta a segurança da ilha como o principal atrativo. "Aqui os banqueiros podem circular sem segurança e até artistas internacionais são tratados como pessoa comum. Em que lugar do mundo é possível vivenciar este tipo de sensação? Devemos é investir no turismo de qualidade e qualificado, esta é a vocação natural da ilha", conclui o administrador, que no início de maio trouxe o presidente da CVC para uma visita de algumas horas e acertou parcerias com a maior operadora do País.
Atitude criminosa do Ibama
No resgate da história da ilha está a sua importância estratégica durante a Segunda Guerra Mundial e durante a Guerra Fria. A ilha foi base da Força Aérea Norte-Americana e, ao lado de Natal/RN, formava o famoso "Trampolim para a Vitória". No final dos anos 1950 o Governo JK autorizou a instalação de uma base para rastreamento de mísseis. O órgão ambiental que é voltado a preservação da natureza demonstra não dar a mínima para preservar a história. É exatamente esta presença americana de 50 anos atrás que esta sendo riscada do mapa pelo Ibama. Os "iglus" que faziam parte da base americana e que se transformaram no primeiro hotel da ilha estão se deteriorando e dois deles foram irresponsavelmente demolidos para dar lugar à base do Projeto Tamar. Eles poderiam ser reformados, receber as cores e padrões originais da base norte-americana e virar um museu sobre a presença deles na ilha e a importância que Noronha teve na Segunda Guerra Mundial.
Os prédios remanescentes da base são uma raridade e deveriam ser tombados imediatamente, principalmente quando se sabe que parte deles estão sendo cedidos para moradia de pessoas sem nenhuma vinculação com o Ibama.
Cláudio Magnavita / JT
Fotos:1- Jornalistas da Abrajet em Fernando de Noronha2- Romeu Neves Batista3- João Melo e Max4 - Ibama destruindo traços da presença americana na Ilha

O confronto não é apenas com os resorts, mas com toda a hotelaria


Criada há menos de um ano, logo após as primeiras manifestações de protesto da hotelaria sobre o impacto da proliferação dos cruzeiros marítimos na costa brasileira, a Abremar (Associação Brasileira de Representantes de Empresas Marítimas), que é formada por apenas 14 associados, encontrou uma forma inusitada de responder ao editorial da última edição do Jornal de Turismo, que alertava sobre a necessidade de existir uma contrapartida para as operações marítimas que promovem a evasão de divisas. A entidade fez um e-mail circular para 25 destinatários, todos da cadeia de distribuição do turismo, no qual encaminha a sua resposta e faz um apelo para que as vendas continuem.
Antes de entrar no mérito da carta resposta, o próprio teor do e-mail circular merece algumas considerações. Nele, Eduardo Vampré do Nascimento faz as seguintes afirmações: "A campanha patrocinada pelos resorts chega ao cúmulo do exagero no artigo do Cláudio Magnavita que respondemos. Agentes de viagens não deixem que inverdades e falsas acusações venham a prejudicar a enorme receita das agências com as comissões sobre os cruzeiros marítimos."
O presidente da associação naufraga na sua argumentação ao tentar justificar o editorial como fruto de uma campanha "patrocinada pelos resorts". Causa surpresa que um dos decanos do nosso turismo desconheça a postura independente do nosso veículo, que há mais de quatro décadas sempre teve um posicionamento combativo e corajoso. No caso em questão, o JT assume uma posição que é fruto do seu compromisso com a verdade e a informação. Apesar de considerar "inverdades e falsas acusações", uma leitura da carta-resposta do presidente do grupo de apenas 14 associados tão só reafirma tudo que foi dito no editorial, a começar pelo enfoque da evasão de divisas, que deu título ao artigo e está no cerne central da argumentação.
O texto distribuído não apenas reafirma que a venda de cruzeiros promove a evasão de divisas, como tenta amenizar o quadro afirmando que "Quem compra dólares do Banco Central está fazendo um grande favor. E o BC só tem de agradecer aos compradores, pois o baixo valor da moeda, por conta da falta de um grande mercado comprador, prejudica os grandes setores exportadores nacionais. Foi-se o tempo em que havia escassez de moeda. Naqueles tempos idos, gastar em moeda forte era, isso sim, danoso para a balança comercial. O ideal, em termos econômicos, seria o equilíbrio. Mas esta é outra história." Curioso é como a argumentação navega a favor dos ventos do oportunismo. Trata-se de uma argumentação esdrúxula, principalmente pelo fato do Brasil ser um país pobre, que tem que fomentar o turismo interno e tentar atrair receita internacional ao invés de transferir riquezas para economias mais abastadas. Precisamos sim, que os turistas estrangeiros desembarquem no Brasil – e neste caso a Embratur está fazendo um trabalho louvável - trazendo divisas e que não sangre as nossas reservas para que reeditemos o tempo de escassez de moeda. Achar que aquele que compra dólares no Banco Central e vai gastar na Espanha ou em Paris está fazendo um favor ao País é lamentável, típico de uma geração que não se importava com o desequilíbrio da nossa balança comercial, por estar lastreado com reservas no exterior.
Na carta, a associação de 14 membros afirma ainda: "O argumento torna-se ainda mais inconsistente quando se constata que as grandes cadeias proprietárias de hotéis e resorts são estrangeiras e, por conseguinte, são levadas a remeter dividendos e lucros para o exterior." Apesar de demonstrar estudar melhor os números alheios do que os próprios, a informação peca, quando confunde bandeira de operação com propriedade. No caso de Sauípe as bandeiras internacionais estão ancoradas em um empreendimento 100% nacional, que pertence a sócios brasileiros e o mesmo ocorre com o Club Med. Os hotéis portugueses geram empregos aqui e promoveram a entrada de divisas como investimento, sem falar das redes nacionais e bandeiras como Othon e Plaza. Os que são de foram vieram para ficar e não apenas atuar na alta estação. Uma das estratégias na defesa do setor marítimo é limitar a disputa legal entre cruzeiros x resorts, o que é um grande erro. Os prejudicados são todos os meios de hospedagens, inclusive as pequenas pousadas familiares de Fernando de Noronha. É um embate com milhares de pequenas vítimas e não a briga com os grandes grupos hoteleiros. O caso é mais sério do que se pode imaginar.
Depois de decorrer e fazer um raio-x sobre o que ocorre no mundo da hotelaria, a carta da entidade de 14 sócios afirma, sobre o nosso questionamento da não apresentação dos seus números, que: "como representamos um negócio relativamente novo no Brasil e nossa entidade ainda não completou um ano de vida, não temos todos os números que gostaríamos de ter, mas estamos empenhados em obtê-los com a maior precisão. E daremos a eles a maior visibilidade, pois sabemos que, entre os segmentos de turismo, o que mais cresce no mundo é o cruzeiros marítimos." É a primeira vez que a humildade aparece no texto resposta, repleto de soberba e que muitas vezes tenta ensinar como os hoteleiros deveriam gerir o seu negócio, ou os jornalistas escreverem os seus artigos. Só que neste cabedal de lições, o capítulo "defesa da atividade hoteleira contra o ataque predador" é subtraída. Os hoteleiros não têm direito de espernear e protestar, o País não precisa poupar divisas. Com esta correspondência, fica clara que a farra dos dólares é o lastro que sustenta esta atividade que promove uma concorrência desleal com aqueles que ficam aqui durante todo o ano e não aparecem apenas no melhor da festa.
Na quixotesca tentativa de defender o indefensável, que muitas vezes leva à intempestivas saídas de cena e abandono de fóruns onde argumentações contestatórias são levadas para o plano pessoal, a Abremar acaba afogando o bom senso até na defesa de um dos 14 associados. Para defender 13, sacrifica-se a maior delas, a CVC, ao afirmar que ela "é a única que traz os seus navios vazios da Europa.". Por que atirar este arpão? A CVC é a única que traz contrapartida. Possui hotéis, traz turistas do exterior, está abrindo uma rede internacional para vender o Brasil e tem a contrapartida que os outros evitam falar. No início de maio, os donos de pousadas familiares de Fernando de Noronha se reuniram com Guilherme Paulus e acordaram uma série de apoios, que inclui até a produção de brochuras no exterior, principalmente no mercado francês.
Na correspondência, a neo-entidade diz ainda que"Afirmar que a CVC, esta grande operadora brasileira, é a única que se enquadra na geração de empregos locais, é outra sandice, pois se colocam no baú do esquecimento as milhares de agências de viagens que vendem a ocupação de resorts e hotéis e promovem o crescimento deste setor." A empáfia da argumentação foge mais uma vez da razão. Dos 14 integrantes da associação que tem menos de um ano de fundada, só a CVC é que possui mecanismos que compensam o fretamento do navio, com lastros de geração de emprego e divisas para o mercado doméstico. A Iberostar também tem um perfil semelhante, e com o mérito de ter a contrapartida de um navio construído no Brasil e navegando todo o ano na Amazônia, além de um parque hoteleiro. Não é sem razão que os dois grupos formam uma aliança dentro deste micro-universo.
No trecho final da carta-resposta, abre-se uma perigosa comporta ao afirmar, com relação aos hotéis, que "falta, ainda, maior cuidado na implantação de projetos que ferem o patrimônio natural, invadindo áreas de proteção ambiental." Será que a entidade, ao mirar os hotéis, não está esquecendo do impacto ambiental causado pelos navios em santuários como Búzios, Fernando de Noronha, Paraty e Florianópolis? Se a hotelaria tornar pública as argumentações dos ambientalistas sobre os navios, a pressão poderá ser ainda maior.
O curioso é que a carta-resposta preocupa-se mais com o camarão, citado como exemplo de protecionismo e que nos foi passado por um hoteleiro, que, ao investir em marinocultura teve de se desdobrar para entrar no mercado norte-americano, do que falar da obrigatoriedade de uma cota para a venda a não-residentes. Os cruzeiros no Caribe são um modelo que poderíamos ter, só que lá eles não vendem pacotes para os caribenhos, mas para norte-americanos, europeus e até brasileiros, promovendo a entrada de divisa e gerando receita. Aqui, querem vender cruzeiros só para quem ganha em reais.
Uma das preocupações do setor hoteleiro, que tem como grande aliado o ex-ministro do Trabalho e hoje senador Francisco Dornelles (PP-RJ), é sobre o rigoroso cumprimento das regras trabalhistas que estabeleciam cotas progressivas que foram atreladas ao desembarque da cabotagem estrangeira em águas brasileiras.
A redação final da Lei Geral do Turismo será a grande chance para a solução deste impasse e a mobilização da hotelaria como um todo já esta ocorrendo. O assunto foi inclusive colocado na recente audiência de lideres do turismo com o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guias, no Palácio do Planalto, pelo presidente da ABIH, Eraldo Alves da Cruz.
Por mais paradoxal que seja, não somos contra os cruzeiros nos portos brasileiros, mas sim a favor de uma regulamentação que traga obrigatoriamente uma contrapartida com turistas estrangeiros a bordo, com uma fiscalização trabalhista rigorosa e com serviços que sejam permanentes (como é o caso do Pacific, da CVC e do Gran Amazon, da Iberostar) e que não tenham apenas o faturamento oportunista da alta estação.

Conselho Nacional de Turismo: exemplo de união entre o setor público e privado

Ao receber no Palácio do Planalto, em abril de 2003, os principais dirigentes do trade turístico nacional, o presidente Lula dava uma sinalização pública da importância que o turismo passaria a ter na sua gestão. Pela primeira vez o setor ganhava status e era alvo de uma reunião exclusiva na Presidência da República. A solenidade empossava os primeiros membros do Conselho Nacional de Turismo, um órgão de desempenho único da esfera federal. Atualmente com 65 membros, o quórum médio das reuniões chega a superar os 100%, isto porque muitas entidades, além de participarem com os seus titulares, também levam os seus suplentes.
A sua representação plural permite a reedição, em termos menores, de um verdadeiro Parlamento do Turismo. Todos os segmentos estão representados e os diálogos e reivindicações acabam fluindo em direção a uma solução imediata. Para o então ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia, que conduziu as reuniões nos últimos quatro anos, os encontros do Conselho serviram não só para nortear a sua gestão, como também para materializar a complexidade de uma atividade que estava órfã e precisava de força política para interagir com setores até então distantes, como os bancos oficiais, demais ministérios e os diferentes segmentos do próprio trade. O Conselho permitiu esta mágica. Todos sentados numa única mesa, conhecendo os problemas e as dificuldades de cada um e, o que é mais importante, conhecendo de perto os protagonistas de cada área. Nunca, na história do turismo ou de outra atividade econômica, aconteceu algo parecido. A interlocução promovida nos últimos anos acelerou em pelo menos duas décadas o processo de amadurecimento do setor. O importante também foi o surgimento de lideranças empresariais fora do tradicional eixo Rio-São Paulo.
São lideranças que estão tranqüilizadas pela decisão da ministra Marta Suplicy em dar continuidade a este trabalho, como bem ressaltou durante o seu discurso durante o almoço oferecido pela Câmara de Turismo da Confederação Nacional do Turismo (CNC), na primeira semana da sua gestão. O perfil administrativo da nova ministra é de uma gestão participativa. Foi dessa forma que geriu a cidade de São Paulo e ela tem o dom de ouvir a todos, não apenas os grandes setores, mas principalmente os pequenos. Um perfil que, aplicado no ambiente do Conselho, transformará a sua gestão em um mutirão que manterá unido os setores público e privado.
Ao reescrever a história do turismo brasileiro e colocar o setor como uma de suas 10 prioridades, o presidente Lula está criando as bases de desenvolvimento de um importante setor econômico e criando condições para que o turismo se fortaleça e seja nas próximas décadas uma atividade geradora de emprego e de melhoria de vida do povo brasileiro. É uma visão de longo prazo jamais vista na gestão do País.
Cláudio MagnavitaPresidente da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo (Abrajet), membro do Conselho Nacional de Turismo e diretor do Jornal de Turismo
Copyright © por JORNAL DE TURISMO Todos os direitos reservados.

Tem que haver contrapartida para quem promove evasão de divisas

Quando um empresário brasileiro tenta colocar um produto nos Estados Unidos, enfrenta todos os tipos de proteção. O exemplo disso é o caso da exportação de camarões de cativeiro. A legislação neste caso é tão específica que determina os milímetros que cada um deve ter para ser comercializado no mercado local. Já os brasileiros, abrem os braços para os estrangeiros, mesmo que isso signifique desequilíbrio do mercado local e evasão de divisas. É o que acontece no caso dos navios de cruzeiro, que estão chegando em cardume e sangrando o mercado hoteleiro nacional durante a alta estação.
Glamour à parte, a presença desses transatlânticos está fazendo duas vítimas: a hotelaria e a balança cambial. Os hotéis são atingidos por uma concorrência de hotéis flutuantes, todos 5 estrelas e com mão-de-obra estrangeira, que singram em circuito fechado o nosso litoral e, quando se afastam da nossa costa, abrem os seus cassinos. A presença brasileira entre os funcionários é pífia e limita-se a animadores e artistas modestamente remunerados. Já a balança cambial sofre porque todos os contratos são realizados em dólar e o pagamento é realizado no exterior, ou seja, a parte maior da receita vai para cofres estrangeiros.
Para operar no Brasil, estes navios deveriam estar atrelados a uma contrapartida no turismo doméstico e na entrada de divisas. Entre os operadores marítimos, o único que se enquadra na geração de emprego locais, na entrada de divisas e no fomento ao turismo doméstico é a CVC. A sua operação hoteleira e o fomento do turismo doméstico contrabalançam a operação de contratar os navios no exterior.
Já as outras, não oferecem esta contrapartida. Vejam, por exemplo, a Costa Cruzeiros. Há anos os seus navios cruzam os nossos mares e há anos o seu caminhão de dólares (ou melhor, seu navio de dólares...) é enviado para o exterior. Se ela usasse sua força de venda no mundo para promover o mercado brasileiro, trazendo turistas do exterior para navegar no Brasil, a conta estaria equilibrada. Mas isso só ocorre de forma tênue. Os cruzeiros são customizados para brasileiros e agora, com a mania das viagens temáticas, só embarcam passageiros que pagam em real.
Não se trata de proibir, mas de exigir uma contrapartida que compense os danos causados à nossa hotelaria e à nossa balança comercial.
Sob o ataque cerrado da hotelaria, os operadores criaram a Abremar, uma associação presidida pelo competente Eduardo Vampré Nascimento, que tem a luta inglória de defender o indefensável. Fala-se em geração de empregos, em consumo no mercado doméstico, mas as planilhas dos números que são apresentados para calar os críticos da atuação predatória dos navios nunca são apresentadas. Algumas perguntas jamais foram contabilmente respondidas. Por exemplo, qual o volume de remessas que todos esses fretamentos resultaram em uma única alta estação?
Por outro lado, a hotelaria fica ainda mais fragilizada com a cristalização pela imprensa do medo de voar. Quem depende do avião, como é o caso dos hotéis do Nordeste, acaba preso em uma equação injusta.
O mais grave de tudo é que os hotéis no Brasil não são sazonais, ou seja, não abrem apenas na alta estação. É neste período, exatamente o mesmo no qual eles são atacados pela ferocidade dos cruzeiros, que vem a receita necessária para o equilíbrio das contas.
Não se trata de combater um segmento do turismo, mas sim de dar um alerta, principalmente quando a mídia especializada fica amordaçada pela forte presença publicitária dos navios em suas páginas. O Jornal de Turismo foi o primeiro a dar o alerta neste mesmo espaço. Defender a hotelaria faz parte do nosso DNA há 43 anos.
O que esperamos é que a mobilização da hotelaria sirva de alerta ao poder público sobre a necessidade, não de proibir, mas de exigir contrapartidas, como de forma natural a própria CVC vem realizando, a ponto de ter deixado durante todo o ano o navio Pacific fundeado no Nordeste e navegando com portugueses para Fernando de Noronha.
Se no Brasil falta capital para termos os nossos próprios navios e armadores com capacidade de ter uma frota verde amarela, temos que preservar e proteger o nosso empresariado e colocar um freio nesta operação que é, sim, uma clara evasão de divisas. Para um país com as dificuldades sociais que temos, preservar quem gera emprego é uma obrigação, principalmente quando estes empregos são gerados 365 dias por ano.
No campo do meio ambiente já existe um mecanismo que leva empresários a compensar, via seqüestro de carbono, ações e até agressões à natureza. O megaevento da Red Bull realizado na Praia de Botafogo, no Rio, foi compensado com a plantação de cinco mil árvores. Por que não fazer um mecanismo de proteção que compense? Uma das idéias é que para lotação total de cada viagem, uma parte das cabines só possa ser comercializada para residentes no exterior. Assim, a entrada de dólares estaria garantida e forçaria cada fretante a utilizar a sua força no exterior para promover o Brasil. Como está, só perde o País e, principalmente, os empresários que resolveram apostar na nossa hotelaria.