quarta-feira

Empresa de cargas ainda sem comando

Lap Wai Chan continua no exterior e tenta garantias para não ser preso quando voltar ao país


Cláudio Magnavita

Especial para o JB

O chinês Lap Wai Chan deixou o Brasil há oito dias e os advogados tentam um habeas corpus preventivo para que ele não corra o risco de ser preso ao retornar. O representante do fundo americano Matlin Patterson tentou transferir da conta da VarigLog na Suíça os US$ 86 milhões para a conta da Volo LLC, desobedecendo a sentença da 17ª Vara Cível de São Paulo, do juiz José Paulo Camargo Magano. Dias antes, o juiz determinou o fundo como gestor da empresa e o chinês passou a ser o primeiro estrangeiro a comandar companhia aérea no país.

Enquanto Lap Wai Chan continua no exterior e não obtém garantias para voltar ao Brasil sem ser preso, a VarigLog – que em 2006 era a maior companhia de carga aérea do país, com 50% do mercado – passa a pior crise da sua história, reduzida a uma frota de três aeronaves.

Antes de assumir o controle da empresa, o fundo Matlin Patterson bloqueou seus fundos e fez arresto de parte da sua frota. A informação foi confirmada pelo novo consultor da companhia, o ex-coronel Eduardo Artur (diretor da Martel Assessoria e Consultoria Aeronáutica), em declaração à imprensa durante o Intermodal South America 2008, realizado nesta semana, em São Paulo. Artur trabalhou durante vários anos no DAC e ajudou na operação das principais concorrentes internacionais. Hoje, como consultor e acumulando oficiosamente a presidência da VarigLog, declarou que o Matlin pretende reincorporar três 757 que foram arrestados pela companhia de leasing do fundo.

Os funcionários da VarigLog estão assustados com o início de operações nas rotas internacionais com outra companhia controlada pela Matlin, a Arrow, também especializada no transporte de carga e que voa de Miami para o Brasil.

A Arrow passou a liderar todos os contatos com clientes da VarigLog na rota para os Estados Unidos, assumindo os contratos de transportes da rota mais rentável da empresa e que passa agora por um processo de aquecimento.

Na prática, o faturamento principal daquela que foi a maior empresa cargueira do país está sendo drenado para uma outra companhia do mesmo acionista, só que com sede nos Estados Unidos.

Além do coronel Artur, está no comando da VarigLog o colombiano Mario Abad, que no passado já prestou serviços à própria empresa e que agora senta na posição de diretor. Só que Abad também mantém suas funções na companhia concorrente, que é Arrow Air, onde ingressou com proposta da própria Matlin.

Dentro da gestão da VarigLog está também Luiz Carlos Gomes, responsável pelas operações da Martel, que no site da Arrow Brasil aparece também como homem da companhia americana no Rio.

Devolvendo o MD11 que faz parte da frota da VarigLog e é hoje a aeronave mais procurada no setor de carga aérea no mundo, a companhia brasileira cede espaço novamente para concorrentes internacionais.

O escritório da VarigLog em Miami deverá ser desativado ou funcionar simbolicamente, repassando para a companhia aérea americana o filé mignon do transporte de carga que pertencia ao espólio da VarigLog.

O juiz José Paulo Camargo Magano é o auxiliar da 17ª Vara. Tem a responsabilidade de uma ação que, por ter desdobramentos em todos os negócios realizados pela VarigLog nos últimos dois anos, pode ter efeitos até sobre o ato de venda da nova Varig (VRG) para a Gol.

O chinês, que foi nomeado para gerir a VarigLog, deixou o país e ainda tentou, sem avisar previamente a corte, transferir os US$ 86 milhões da companhia que estavam depositados na Suíça. Os fiscais judiciais nomeados por Magano, Alfredo Luiz Kugelmas e Luis Gaj, têm a missão de colocar ordem na casa.

Ontem, o também o juiz da 17ª Vara Empresarial do Rio Luiz Roberto Ayoub tentou falar com o colega em São Paulo por telefone, para tratar do despacho que bloqueava as ações da Gol em favor da Varig e não conseguiu o retorno.